Não sei se fizeram, mas deviam ter feito em 1989, um álbum de retratos comemorando o centenário da República. Só com os presidentes, de preferência os que foram eleitos em pleito direto. Não, volto atrás. Todos, a começar pelo Deodoro, que não foi eleito. Seria interessante a gente ver a cara de cada um e ir comparando. Fotos oficiais e sobretudo não oficiais, não posadas. Duvido que haja alguma parecida com a do Collor outro dia.
Aliás, não vi foto. Vi na televisão, que estava sem o áudio. Por isto só vi, não ouvi. Ele dava uma gostosa gargalhada, daquelas de gargarejo, de virar a cabeça para trás até encostá-la nas costas. Só não era de rebentar as ilhargas porque estava de traje esporte. O país do jeito que a gente sabe e o presidente rindo às bandeiras despregadas. Pois vejam a minha reação: gostei. Chega de cara fechada e de apocalipse. Tem crise, sim, mas o presidente está rolando de rir.
Não sei qual o motivo da casquinada. Pouco importa. O homem é o único animal que ri. Foi Voltaire quem disse? Também pouco importa. Rir faz bem à saúde. Num país enfermiço, cheio de mazelas, que ao menos o presidente tenha um momento de ovante satisfação. Além do mais, era domingo. Cumprido o dever religioso, caíram bem a folga e o riso. Anos atrás, nunca que ninguém ia ver um presidente assim espojado à vontade, em trajes quase menores. E gargalhando. Se não me engano, gargalhada era até falta de educação.
Mas os tempos são outros. Na República Velha, era todo mundo de sobrecasaca. Um calor de derreter os untos e o sujeito fechado até o último botão. E ainda tinha o fraque. Até na Câmara os hábitos e a indumentária eram severos. O paletó-saco só apareceu no Parlamento depois de 1930. Antigos conselheiros, os presidentes eram sisudos. Deodoro, coitado, era asmático. Aliás, “asthmatico”. Na velha ortografia a dispneia era maior.
Getúlio foi quem inaugurou a gargalhada. Era um homem fechado e de raro em raro, charuto em punho, soltava o riso. JK era risonho. Os generais pós-64, que nada. Nem sorriam. O Jânio não sabia rir. O Bernardes, o Washington, o Prudente eram todos circunspectos. A primeira-dama chorou em público, me comoveu, mas que me desculpe. Gostei da gargalhada do Collor. Pode ser saúde ou doideira, mas gostei.