Mais um animal ameaçado de extinção. Agora é o tatu, em Minas Gerais. O tatu-canastra, bem entendido, que tem de onze a treze anéis. O tatu-bola só tem três. É um bicho curioso, o tatu. Passa por desdentado, mas tem fortes molares que não aparecem. Pertence à família dos dasipodídeos e agora querem chamá-lo de xenartros. Só porque tem zigapófises na coluna vertebral. 

Há coisa de vinte anos, quando crescia a todo vapor a nossa pauta de exportações, o Brasil exportou urubus para a Holanda. Vejam só. Atrás do urubu foi o tatu, made in Brazil. O tatu, porque tem a carne saborosa, para ser iguaria em restaurante. É melhor do que galinha. Acho que esse comércio promissor não foi adiante. Deu pra trás. Cresceu como rabo de cavalo. 

Por falar, rabo de tatu é um excelente relho. Servia para exemplar menino malcriado. Segundo os índios, a carne do tatu tem virtudes fantásticas. Melhor do que qualquer outra caça, quem a come ganha força e astúcia. No fabulário indígena, o tatu é muito esperto, apesar de acanhado. É capaz de enfrentar uma onça e cobra foge dele. A couraça o protege de qualquer investida. Vive sozinho na sua toca. Taciturno, não sai de dia e tem o mau hábito de comer rato. 

Não é todo tatu que come rato. É mais o tatupeba, um plebeu, e assim mesmo quando está faminto. Uma coisa é verdade: o tatu, mesmo o canastra, gosta de passear à noite no cemitério. Como se não lhe bastasse viver enterrado durante o dia. Quando Rudyard Kipling esteve no Brasil, em 1927, ganhou de presente um tatu. Pois adorou. E levou-o para Londres. Não sei se entrou na sua autobiografia, que ficou inacabada. 

No Brasil ao tatu não lhe faltam galas literárias. Até na música, com "O tatu subiu no pau". Meio sem graça, melhor é brincar de paca, tatu, cutia não. Na fauna do Guimarães Rosa, está lá, firme, o tatu. "O tatu não vê a lua", diz a menina de lá. Uma beleza de conto, que vem depois da obra-prima "Soroco, sua mãe, sua filha". Este, sozinho, consagrava o Rosa. Mãe e filha doidinhas, tangidas para Barbacena. O grupo Munganga adaptou-o para o teatro e a peça há dois anos faz sucesso na Holanda. No lugar do urubu, agora exportamos o Rosa. A peça está em São Paulo. Eu vi no Rio e gostei. Uma proeza.

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