Bonita e desembaraçada, a professorinha sabe o que quer. Quer alfabetizar o Brasil. Talvez não seja um programa tão original como ela pense. Pouco importa. Há muito tempo vem rolando essa pregação. Enquanto não souber ler e escrever, o país não vai para a frente. Fica aí atrasado e opilado como o Jeca Tatu. Progresso é antes de tudo instrução. E a instrução começa pelo alfabeto. Ler e escrever. O mais depressa possível. Já.

Verdadeiro mistério não se ter passado do axioma teórico à prática. A verdade é cristalina, irrefutável. Só pode ser maldade das elites, desejosas de manter o monopólio da instrução. Restos do regime escravocrata. Também pode ser descaso, aliado à força das circunstâncias. Fatores negativos, que já não importa contestar. A questão agora é pôr mãos à obra, a partir de um bom método.

Métodos não faltam. Nenhum, porém, mais eficiente do que o que a moça escolheu. Não quero, nem posso julgá-lo. Pelo que entendi, é mais um facilitário. Tem a preocupação dominante de afastar todo e qualquer obstáculo. Com o adulto, tanto quanto com a criança, é preciso lidar com esse máximo cuidado de que tudo é acessível. E nada mais fácil do que ler, escrever, contar. Jamais acenar com os fantasmas da velha pedagogia. Disciplina, esforço, aplicação. Palavras abolidas.

A delícia de aprender começa pelo material posto à disposição do aluno. Qualquer que seja a sua idade, cumpre que seja seduzido logo de partida. Até as cores foram tecnicamente estudadas para não chocar. Fichas e cartolinas são jogos. Uma única intenção: divertir. Por aí é que se pega o interesse daquele que, brincando, foi apanhado por essa benéfica rede de civismo. Vão lhe cair as escamas dos olhos, quando menos espere.

Na hora do livro, o objeto apresentado não tem páginas nem capa. Pode ser molhado e rabiscado. Há partes que podem ser comidas. São saborosas e não fazem mal. Talvez isto seja muito mais brinquedo do que livro. Tudo são surpresas, mágicas e delícias. O desafio está no mais fácil e não no mais difícil. Por esse caminho vamos acabar numa olimpíada às avessas. Ganha quem pula mais baixo. Campeão é quem corre menos. Viva o facilitário pedagógico. E quem sabe vivam até as trevas da ignorância.

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