Joyce Pascowitch deu notícia da visita que o Augusto Marzagão fez ao Jânio Quadros. Foram 30 piadas. Não faltaram as do papagaio, mas as clássicas de português devem ter ficado de fora. Inverteu-se a mão. Agora são os portugueses que contam piada de brasileiro. E nem precisam recorrer à imaginação, como diz o Raul Solnado. Como era fatal, no repertório do Marzagão entrou o próprio Collor.

Rir da autoridade, ainda que à distância e pelas costas, talvez seja uma forma de suportá-la melhor. Governo é uma instituição muito séria, com tendência a uma irremediável chatice. Vá bem ou vá mal, uma piada cai bem. Se vai mal, tanto melhor. Desopila. É uma válvula de escape. Na ditadura então, nem se fala. Ainda que à socapa, rir traz sempre algum alívio. Pouco importa que as piadas não sejam originais. Circulam de lá pra cá e se adaptam à situação.

É o caso das que correm na URSS e na Europa do Leste. Muitas são velhas, com roupagem nova. E têm, às vezes, uma pitada do sense of humour judaico, que costuma rir de si mesmo, o que é uma prova de sabedoria. O perigo é gente que não acha graça em nada.

Hitler e Stalin nunca riram dos outros. Muito menos de si mesmos. Salazar e Franco também não gostavam de anedota. Já o Getúlio apreciava uma piada e até procurava tirar partido do chiste popular.

Quando voltou ao poder pelo voto, Getúlio gostava de ler as piadas que o Vianinha anotava. Jornalista, o Antônio Viana de Lima tinha essa mania. Era a versão escrita do Marzagão. O Marzagão, eu conheço. Há mais de 30 anos transpira piada. É uma compulsão que o diverte. Tem sempre a última na ponta da língua. Quando Jânio era presidente, não sei se o Marzagão compareceu. Se não, fez falta a sua terapia.

Eu trabalhava no jornal com o Vianinha, que me contava a reação do Getúlio. O Velho achava graça e se interessava mais pelas pilhérias que falavam dele. Tratava de avaliar por aí a sua cotação junto ao povão. Quando era ditador, estimulava o teatro-revista, que o bajulava como o espertíssimo Gegê. Mas humorismo dirigido e oficial é uma tristeza. O líder do Collor, Cleto Falcão, dizem que sabe 65 mil piadas. Quantas com o próprio Collor? Convém verificar em que direção estão apontando. Graça, até onde sei, o povo não está achando nenhuma.

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