Estava pensando outro dia no caso de escritores que um dia decidem sair de cena e param de escrever, numa versão do silêncio do Rimbaud. Conquistam um espaço nas letras, cativam o público e, de repente, adeus. Como dizia um doido lá em Minas, recolhem-se à biblioteca do seu ser. Há os que, não tão bem-sucedidos, o que não é critério de valor, se calam meio amargos, meio desdenhosos.

Aos 17 anos, ainda no Recife, Aguinaldo Silva foi uma revelação de ficcionista. Marques Rebelo o indicou ao Fernando Sabino, que, com o Rubem Braga, lançou o seu livro de estreia na Editora do Autor. Repercutiu, bem acolhido, e no 6º volume de A literatura do Brasil, seu nome é arrolado por Assis Brasil entre os novos autores pelo seu “grande desembaraço narrativo”.

Depois de uma passagem vitoriosa pelo jornalismo, em particular pela reportagem policial, Aguinaldo se distinguiu na dramaturgia da televisão. Acusado de plagiário, assina Pedra sobre pedra, que na Rede Globo alcança altíssimos índices de audiência. Com bom humor, declara ele agora que, com 60 milhões de espectadores, só aceita crítica de Deus. Aureolado entre os deuses da mídia eletrônica, tem o dom de bolar a trama que o povão consome e adora.

Então, por que falam mal dele? Dirá um que é porque faz sucesso. Dirá outro que é porque ganha dinheiro. Ele próprio diz que a situação do escritor no Brasil não é nada estimulante. Então, desistiu da alta literatura e optou por ser um telenoveleiro. Escreve para isso mesmo ― para entreter e fazer sucesso. Seu karma, porém, diz ele, é o sobrenome Silva, o destino plebeu dos Silva.

Mas aqui o Aguinaldo está plagiando o Rubem Braga da crônica “Luto da família Silva”, de 1935. Lá diz o Rubem: “Os Silva somos nós. Não temos a mínima importância. Saímos da vala comum da vida para o mesmo local da morte. Até as mulheres que não são de família pertencem à família Silva”. Sucede que contei no Dicionário histórico-biográfico 118 Silvas ilustríssimos, do patriarca José Bonifácio a três presidentes da República: Bernardes, Jânio e Costa e Silva. Só gente importante e poderosa. No Dicionário literário brasileiro, contei também 71 Silvas. Lá só não figura, omissão a corrigir, o próprio Aguinaldo. Ou seja: karma do sobrenome não é. Silva é como Smith. Comum, mas ilustríssimo.

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