Fim do ano, época de balanço. Olhar para trás e fazer as contas. Ver o que se ganhou e o que se perdeu. Quadra propícia para um exame de consciência. À velha moda, como no tempo em que, ao lado dos exercícios físicos, havia também os exercícios espirituais. Que não precisam ser obrigatoriamente jesuíticos. Óbvio, o irmão corpo merece todos os cuidados. E até carinho. Para os católicos, é o templo do Espírito Santo.

Começo do ano, época de olhar para a frente. Encarar o futuro sem a preocupação de decifrar as incógnitas encobertas nas dobras do que há de vir. De uns tempos para cá, decepção após decepção, entramos numa fossa de amargar. Parece até uma conspiração para acabar não só com a fé, mas com o próprio futuro. Virou vício. Cacoete. Estamos todos empenhados em liquidar com o nosso estoque de esperança. Se bobear, não fica um único balãozinho cheio.

A gente já nem respira direito, sem esse oxigênio que é a garantia do dia de amanhã. Sim, ninguém pode negar que há muita coisa errada. Mas nem tudo é só ruim, ou só negativo. Há por aí, nem que seja escondida, muita coisa boa e positiva. O futuro não nos foi proibido, nem cassado. E não se esgotaram a energia e a luz que nele residem. Hora de olhar para trás e hora de olhar para a frente. Este duplo olhar liga o ontem ao amanhã. Na transição do hoje é preciso abrir espaço para o que a vida tem de inaugural e de renovador.

O ano que chega ao fim teve as suas maldades. A mim não me poupou, se o comparo com outros anos. Mas mentiria se dissesse que não me fica também um saldo favorável. Fica, sim. Aqui estou firme, disposto a dizer sim ao sonho. Em todos os planos, no público e no particular, nem tudo me convida ao pessimismo. Muito menos ao desespero. Andei lendo velhos textos que falam de um passado hoje dourado. Os pessimistas já eram pessimistas. Os otimistas já eram otimistas.

Tudo afinal de contas é misturado. É assim a vida. Foi assim o ano. O que vem por aí daqui a pouco vai abrir o seu arco de vitórias e derrotas. De alegrias e tristezas. Nem tudo será azul. Mas nem tudo será preto. Ou amarelo, como o sorriso de desânimo com que a gente hoje encara o Brasil. Ânimo, pessoal. Não é o caso de perder a confiança. Nem o jeito fatal de ser brasileiro. A vida é fecunda, inventiva e imprevisível. É tocar pra frente. Eia! Sus!

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