Só na aparência a pergunta é simples. Que é que move um deputado? No fundo, é como indagar o que move qualquer um de nós. Justifica-se a curiosidade, nesta hora em que se joga o destino do país. Se me detiver na análise do que colheu a pesquisa, vou ficar numa resposta simples. Ou pior, insatisfatória. O que vem logo à mente e aos lábios é o interesse. O interesse move, sim, um deputado. Mas também move quem não é deputado.

Radicalizando, vamos encontrar interesse na amizade. Você é amigo de quem lhe parece agradável. Quem tem afinidade com as suas ideias. Em suma, quem lhe dá prazer, lhe faz boa companhia. Nem o amor escapa, nessa linha de raciocínio. O amor é troca. No parceiro ou na parceira, você busca o que lhe agrada. Quem se junta se parece, lá diz o ditado. Em francês soa mais verdadeiro: “Qui s’assemble se ressemble”. Ou vice-versa. Quem se parece se junta.

O interesse, no caso do deputado, pode ser legítimo. Ou nem tanto. A parte visível é, mas uma parte submersa não é. Mergulha nos biocos da alma. Nem o próprio deputado às vezes saberá descer a esse porão, que deita raiz no inconsciente. Também pode ser escuso, o interesse. Oculto, não ousa encarar a luz do dia. Como tudo que se processa nesse laboratório íntimo, não é fácil entender como se elabora uma decisão. Ao lado do interesse, há a dimensão moral. A intelectual. A religiosa.

É natural que o deputado queira ficar bem com a opinião pública, em particular com os seus eleitores. E pode se dar o caso que se instale aí um conflito. Ficar bem com os seus mandantes nem sempre coincide com a tônica da opinião pública. Um representante das grotas mal distingue o murmúrio que vem, se vem, lá dos cafundós, onde Judas perdeu as botas. E a fala. Mas o rugido da grande cidade o ensurdece. Pode lhe tirar o sono, dependendo de sua formação.

Ou não. Pois há quem se motive na contenda. O aberto confronto revigora. Afugenta medos. Desassombra. Satisfeito o desejo de aparecer, a luz da publicidade conforta. Lógica, bom senso, raciocínio, tudo pesa. Os compromissos de um e outro lado, com o governo e com a oposição. Um olho no próximo mandato, outro na manutenção de vantagens. Cargos, encargos. Afastada a hipótese do automatismo ideológico, ainda restam mil fatores. Animal compósito, o homem! Mesmo deputado.

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