Dia da Bandeira anteontem, me plantei diante da televisão pra ver como é que a data ia ser comemorada em Brasília. Bandeira e insígnia. A pátria desfraldada. Tive uma educação muito cívica, na base do ufanismo. Passei anos esgoelando o afeto que se encerra em nosso peito juvenil. O cara vai ficando velho e, se não segura o ponto, acaba um lamuriento, sempre com aquele desconforto de galinha viajada. E se recolhe ao porão do saudosismo.

O feriado dia 15, da República, que tinha acabado, voltou, mas o da bandeira, dia 19, não. Quem diz república diz cidadania. Já a bandeira, canta o hino, é o pendão da esperança, o símbolo augusto da paz. Em seu seio formoso retrata nosso céu de puríssimo azul. O Bilac, autor da letra, não era forte em meteorologia. No Brasil a instabilidade é a regra. Tudo muda. Até o nome do país mudou logo de cara. Com Cabral era Vera Cruz, a “terra chã com grandes arvoredos”.

Quem lê a carta do Caminha jura que estava desembarcando aqui a executiva nacional do Partido Verde alemão. Ou era a Eco-1500. Coitados dos índios. Nem sonhavam com o que os esperava. Pareciam eleitores do Collor: só fé e ingenuidade. Bom, mas o nome foi mudando, virou Santa Cruz e finalmente Brasil, por força do comércio do pau homônimo. Vejam o que pode o comércio. Aliás, não fosse o lucro e ninguém vinha dar com os costados aqui. Donde se conclui que a Fiesp tem profundas raízes históricas.

De 1500 a 1991, tivemos nove bandeiras. Muito brasileiro passa a vida toda e nem sonha com nove camisas, mas em compensação o Brasil, em matéria de bandeira, tem um enxoval de nouveau riche. A programação visual dos positivistas era uma pobreza. A bandeira é bem feinha. Botaram o dístico “Ordem e Progresso”, mas cortaram o Amor, que também figura no trinômio do Augusto Comte. Em vão o Carlito Maia pede a inclusão do Amor. Em 1889 machão não falava em Amor, mesmo com “A” grande.

Quanto à festa em Brasília, foi um fiasco. Caiu um toró medonho. 492 crianças ficaram encharcadas. O Passarinho molhado, todo mundo ensopado. O vento embrulhou o palanque e não foi pra presente. Corajoso, o Collor quis enfrentar o temporal de peito e guarda-chuva abertos, mas se rendeu à força da borrasca. Era como se o céu dissesse: isto é hora de festa? Até parece que Fernando Pessoa tem razão. Diz ele: “Ah! tudo é símbolo e analogia”!

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