Estou gostando de ver esse bate-boca entre os japoneses e os americanos. Um jornal que tem uma tiragem de milhões de exemplares, o Yomiuri Shimbun, diz que americano quer ganhar os tubos, mas trabalhar, neca. O deputado Yoshio Sakurauchi rasgou o verbo: americano o que é mesmo é preguiçoso. Doido pra ser reeleito, Bush foi a Tóquio e pediu aos amiguinhos japoneses pra comprar mais bugigangas “made in USA”.

A balança comercial é favorável ao Japão em mais de US$ 40 bilhões. Por favor, prefiram as nossas autopeças, implorou o presidente. Duros na queda, competidores implacáveis, os nipônicos botaram pra quebrar. Quer saber de uma coisa, seu Bush? O operário americano é um ignorantão. Tem um nível cultural que é uma vergonha. Entre os qualificados, de cada três, dois não sabem ler. Ler, isto é, entender o que leu e pôr em prática direitinho.

Preguiçoso e ignorante, o americano além do mais só pensa em bobagem. A maior parte do tempo quer vadiar e sofre de um delírio consumista. O que vê quer comprar. Mas no duro mesmo quem está comprando tudo, com dinheiro vivo, cash, são os japoneses. Se o americano bobear, compram a estátua da Liberdade e a Biblioteca do Congresso. Em Londres, só não compraram por enquanto o Palácio de Buckingham. Se aparecerem aqui com aquela nota preta do yen, compram a Casa da Dinda e o Pão de Açúcar. E ainda dão troco.

Mas o que me interessa agora é essa história de ver o americano xingado na lata de boa-vida e malandro. Japonês é fogo. Não brinca em serviço. Estudante lá estuda. Greve de professor, nem pensar. O garoto reprovado tem vontade de se matar. E às vezes se mata mesmo. Voltei do Japão uma vez pelos Estados Unidos. Depois de Tóquio, achei Nova York meio sujinha e bem subdesenvolvida. Tudo lá funciona. Até o tufão que me perseguiu obedeceu direitinho ao roteiro que lhe foi traçado.

Se o americano não reagir, daqui a pouco vão escrever lá o Macunaíma deles: ai que preguiça! Eu sustento que o brasileiro não é preguiçoso. Mas sou apenas uma voz contra séculos de preconceito que acusam a lassidão do nosso clima e a nossa mistura racial. O americano nos olha e vê o Jeca Tatu. De cócoras, opilado, mandrião. Agora vem o japonês e diz que o americano é indolente e bronco. Pois eles que são brancos (e amarelos) que lá se entendam.

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