Qualquer que seja o desfecho desta crise, o Brasil não será o mesmo. É o que ouvimos e lemos. É o que também dizemos. Se duvidar, é o que pensamos, convictos. Os anjos que digam amém. Nada como a experiência. No plano individual, nenhuma escola é melhor do que a vida. O diabo é que, quando o sujeito vai chegando ao limiar da sabedoria, é uma pena, está na hora de morrer. E a experiência não é testamentável. Não se pode passar adiante, nem legar.

No caso de um país, a história é que ensina. A mestra da vida. Luz da verdade. Como está no Cícero: lux veritatis. Se é assim mesmo, o Brasil não tem sido um bom aluno. Ou, nação jovem, não passou ainda das séries iniciais do primeiro grau. Eu sou um que não concordo muito com essa tese da nossa puerilidade nacional, que o Ruy Mesquita ainda outro dia sustentou no Jô Soares. Afinal, tão jovem, senão mais, serão os Estados Unidos. Ou o Canadá. Para não falar da Austrália.

Muitos, em suma, são os fatores que compõem o que pode ser a personalidade do brasileiro. O nosso jeito de ser e de estar no mundo. De uns anos para cá, temos quebrado a cabeça pra decifrar este enigma. Estudos e pesquisas vão às fontes. Na origem, nas raízes do Brasil, se não a explicação, pode estar um dado importante. Daí salta-se para o legado ibérico. O forte legado. E válido. Como o recado genético, a que hoje em dia se dá cada vez mais valor.

Um traço do nosso jeito é o jeitinho. Encaramos com simpatia e que se encaixa na malandragem. Todo brasileiro é malandro. É o que estaria escrito no sangue. Ou no caráter. A visão dos estrangeiros contribui para esta crença antropológica. A nossa literatura de ficção está cheia de personagens que confirmam a fatalidade de tal vocação. O Saci Pererê seria um símbolo autóctone. E negro, óbvio. Mas há antes, já na Europa ibérica, o Pedro Malasartes.

Encarnação da esperteza, o Malasartes, mais que português ou espanhol, é universal. Aparece até na Europa do Norte, numa versão que terá sua nuance própria. Aqui, o que cumpriria é não fazer do malandro um herói. Digno de louvor e imitação no plano cívico. Ou político. A vitória a qualquer preço. O dinheiro fácil. O trambique. O culto sistemático da vigarice, sem lei nem rei. Se aprendermos esta lição a partir deste episódio, não terá sido em vão. Valeu!

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