Aqui entre nós, que ninguém nos ouça. Quem é que não sabia desse segredo de polichinelo? Nos clubes grã-finos, aqui no Rio e aí em São Paulo. Em Brasília então, minha Nossa Senhora! Nem seria o caso de dizer que era à boca pequena. Como diria a minha avó, até o defunto Elias, que nasceu cego, surdo e mudo, e já tinha morrido, até ele estava farto de ouvir histórias.
E não é caixinha de dona Baratinha, não. Uns trocados, gorjetas e comissões. Hoje são milhões. Bilhões de dólares, nesta época de recessão e de penúria. Foi assim, num clima de livre diz-que-diz, que se fez na sombra o misterioso perfil do personagem. O tal PC, que voa de jatinho. E tem jeitinho pra tudo. O falatório chegou até o povão. Fui ao botequim do Lili pra saber o que diz o vulgo.
Encontrei por lá um ar de deboche. A caixinha? Sim, todo mundo sabia. Mas é como uma fatalidade. Ou uma história das Mil e uma noites. Provoca até riso, onde se espera revolta. O impiedoso sarcasmo de quem nada tem a ver com essa esterqueira. É a contrapartida do sentimento dominante entre os que estão por dentro — a calejada indiferença. Raia pelo cinismo a certeza de que no Brasil nada acontece. Nada tem consequência.
De repente, é como se fosse rompido um pacto secular. Um juramento sagrado. Vem abaixo a muralha de silêncio. Pouco importam os motivos e as circunstâncias, a pedra desta vez veio de dentro. A história pode estar mal contada, sim. Pulsa na discórdia familiar uma nota dramática. Dostoievskiana. Não é de outro estofo a grandeza shakespeariana. Tema de Racine pra cima. Farisaismo à parte, há também aspectos irrelevantes.
O Bush, por exemplo, dizem que só se escandaliza com a cocaína. Ora, no contexto, não passa de uma poeirinha de nada. Vamos deixar de hipocrisia. O que há de assustador em tudo isso é que mais uma vez se joga nessa parada a sorte do Brasil. O destino de um povo. Isto aqui está longe de ser um mar azul. A Eco-92 às portas, a ONU presente, e esta dolorosa purgação doméstica. Agora, é tocar pra frente. Apurar tudo, enfrentar a crise e resolvê-la. Democraticamente mais uma vez tentar abrir o caminho do futuro.