Eu também fiquei aliviado com a reconciliação. A gente já vive num país que não consegue fazer o pacto social. Faz tempo que só se fala nesse pacto. Muito antes de Moncloa ter se erigido em citação obrigatória, o entendimento nacional era aqui uma obsessão. Ou nos entendemos ou nos precipitamos juntos no abismo. Tenho de memória uma entrevista que fiz com o Jango, pouco antes de sua queda. Estamos no mesmo barco, dizia ele. Ilusão, coitado.

Nem sequer se renova o arsenal metafórico. Esse barco, por exemplo, não sai do estaleiro nem da conversa dos políticos. Deve ser mais resistente do que o “Titanic”, que era incapaz de afundar e afundou. E a orquestra lá tocando, na maior alienação. Aqui ao menos estamos todos atentos. Não passa um dia sem que se ouça o aviso — cuidado, o país à deriva, caos à vista. Então a crise conjugal serviu para nos distrair um pouco. E pelo menos esta passou.

Se eu estivesse lá entre os que no palácio viram a entrada do casal, também tinha aplaudido. Faz bem a gente ver um casal pôr uma pedra em cima de suas desavenças. Brigar, todo mundo briga. Com quem se há de brigar senão com a própria mulher? É a que está mais perto, sujeita a atrito. Em briga de marido e mulher, ninguém deve meter a colher. Nem o marido, é o que se diz. Mas foi o Collor que entrou nessa onda de botar a boca no trombone. Ou de tirar a aliança do dedo.

Neste tormentoso século em que o homem pisou na lua e desvendou os refolhos do inconsciente, deu essa mania de botar tudo pra fora. Expor na vitrina, à vista da curiosidade pública. Já não há penumbra. Só luzes. Coisas do marketing. Vivemos num tempo exibicionista. Narciso não tem vergonha de nada. Tampouco tem pudor. Intimidade é uma palavra que não existe no seu vocabulário. Muito menos culpa. Enfim, acabou agosto, acabou o desgosto.

Curioso: tem muita rosa nesse caso. O repórter que pôs a LBA na berlinda é Mário Rosa. A mãe de Rosane é Rosita. Uma irmã é Rosânia. Tanto perfume e, no entanto... Rosane falou em sanha dos torquemadas. Exagero talvez. Mas gostei de ter citado Gabriela Mistral. Viveu no Rio, foi amiga dos nossos poetas, e sua tragédia foi perder o filho em Petrópolis. São de Gabriela os versos que me ocorrem: “Dame las manos y danzaremos. Dame las manos y danzarás. Como una sola flor seremos, una sola flor y nada más”. Assim seja.

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