Erudito do supérfluo, é como classifico o José Octavio de Castro Neves. Ele sabe muita coisa boa e útil, mas sabe também o dispensável. Sabe que avião você deve tomar, numa viagem de Maceió a São Petersburgo, para se sentar do lado da sombra e da melhor paisagem, com a garantia de que será bem servido pela mais bonita comissária de bordo. Sabe o filme que vão exibir durante a viagem e, se duvidar, é capaz de providenciar a troca, para um melhor.

Vi e ouvi sua conversa à beira do Marne, depois de um lauto almoço com o Miguel Lins e comigo. Conversava com uma velha francesa, em francês, sobre uma raça de cães tão rara que ela era uma das seis únicas criadoras na Europa. Pois o Zé era íntimo do tal cãozinho, íntimo por sua vez de milionários e príncipes. O papo agradou tanto a velha e o cachorrinho que entramos na mansão para um conhaque, naquele domingo frio de maio.

Erudito do supérfluo era o Mário Reis, que sabia de cor os nomes de todos os ministros de estado da república e do império. O Wilson Figueiredo, além da letra dos sambas do Noel Rosa, que canta com voz afinada, sabe nome, data da construção, tonelagem e velocidade dos vasos de guerra da marinha brasileira, desde o tempo do Cochrane, 1822. O Cláudio Mello e Sousa sabe tudo sobre mitologia. Aliás, uma vez embatucou nos 12 trabalhos de Hércules e quem nos salvou foi o José Octavio, já que almoçávamos no seu “Pantagruel”.

Há outros casos de erudição mais ou menos frívola. Um amigo meu sabe os oradores que falaram à beira dos túmulos de artistas e escritores de todo o mundo. E é capaz de dizer de cor a íntegra dessas fúnebres peças oratórias. Mas agora estou boquiaberto é com o deputado Cleto Falcão, novo líder do PRN. Dora Kramer, do Jornal do Brasil, contou que ele sabe tudo sobre velhos crimes.

O da ladeira do Sacopã, o de Dana de Teffé, o de Aída Curi, histórias que não são do seu tempo. Reproduz de memória o júri do Flávio Cavalcanti. Sabe de cor e salteado mais piadas do que o Ary Toledo. Computadas, são 65 mil. Talvez por isto tantos lhe têm horror em sua terra, Alagoas. Inveja, diz ele. Algum maldoso é capaz de perguntar se ele está a par dos novos crimes, sobretudo os públicos. Mas isto parece piada de mau gosto, não?

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