Um presidente brasileiro vai aos Estados Unidos e não se torna visível. Os jornais calam. Até parece que o Collor entrou invisível na Casa Branca e invisível permaneceu no Salão Oval. Se Ralph Ellison não tivesse escrito Invisible Man, qualquer presidente brasileiro em Washington podia passar por seu personagem. Aliás, convém lembrar que o homem invisível de Ellison é negro e sai do Sul para não ser visto em Nova York.

Nem nome tem. É o máximo da falta de identidade. Lembra Memórias do subsolo, de Dostoievski, traduzido pelo Boris Schnaiderman. Coisa patética: o Collor nos Estados Unidos, ouvindo, comendo, sorrindo em inglês para o Bush e, todavia, inexistente. Como ele estava lá em nome do Brasil, ainda é mais patético. Um paisão deste tamanho que não existe. Não existe o Brasil e não existimos nós brasileiros. Pelo menos vistos de lá, da matriz.

Até o fim da guerra, 1945, os nossos jornais não punham o Brasil na primeira página. Com a dominante mentalidade colonial, vivíamos suspirando pela Europa, como disse o poeta. Aqui não era a pátria. Mesmo os Estados Unidos para nós cediam o passo à corte europeia. A metrópole estava para além de Lisboa. Em Paris e adjacências. O cabo submarino e depois o telégrafo passaram a nos abastecer de notícias. Notícias nobres, de primeira página, só as de lá de cima.

Durante o século 19 o grande acontecimento era a chegada do paquete. O barco que trazia as novidades dos civilizados. Quando os Estados Unidos começaram a falar grosso, Monroe estendeu à nossa volta o seu cordão sanitário. Alto lá, o quintal é nosso. Era a doutrina Monroe. Oito décadas depois, o argentino Drago reeditou o princípio da América para os americanos. Nenhuma potência europeia podia cobrar dívida com maus modos, falando pela boca do canhão.

Muita coisa mudou, mas a pauta continua sendo feita lá em cima. Lemos o que eles selecionam. O americano é por natureza isolacionista. Republicano, Bush dá força à tradição. A grande imprensa nos esnoba. “Brazil? Never heard”. Nem o buraco da dívida faz barulho. A floresta amazônica apenas rumoreja. Será que gritando eles ouvem? Que nada! Somos invisíveis e, por mal dos pecados, eles são surdos.

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