Não sou vidente, mas, antes das pesquisas finais, adiantei um dado importante sobre o vencedor na eleição americana de ontem. Nada mais parecido com um cidadão americano do que outro cidadão americano, se vistos ambos de longe, ou de fora, por quem não é americano. Lá mesmo nos Estados Unidos há quem ache, como Gore Vidal, que um republicano e um democrata são vinho da mesma pipa. Ou farinha do mesmo saco. São ambos de direita. Conservadores ambos.
A mesma coisa se dizia aqui no tempo do Império. Nada mais parecido com um saquarema do que um luzia. Ou seja, respectivamente, um conservador e um liberal. Na sociedade massificada de hoje, um candidato tem de sintonizar com a multidão. Pensar pela maioria, exprimi-la, não é para qualquer um. Tem de entender de pasteurização, de geleia geral e de marketing. Daí todos acabam parecidos. Clinton, Bush e Perot são iguaizinhos.
Lá isso, não são. Têm estaturas diferentes, caras distintas, jeito de andar e de falar incoincidentes. Podem até ter opiniões divergentes sobre esse ou aquele assunto. Qualquer que fosse o resultado das urnas, uma coisa, porém, era certíssima. A esquerda iria sair, como saiu, vitoriosa. Há hoje quem sustente que já não faz sentido essa divisão entre esquerda e direita. Velharia que vem da Revolução Francesa. Não penso assim, mas não vou meter nesse debate a minha colher de pau.
Isto é tema para simpósio de acadêmicos. E o que não falta hoje no Brasil é cientista social e cientista político. Como não sou uma coisa nem outra, posso reafirmar que vitoriosa ontem foi a esquerda. Ou, se quiserem, a canhota. Isso mesmo. Pela primeira vez nos Estados Unidos, os três candidatos têm em comum isto: são canhotos. O mais evidente é o Bush, porque apareceu mais. Sempre que assinava um papel diante das câmeras, podia-se ver que é canhoto.
Pois Clinton e Perot também o são. Não sei se pertencem ao Clube dos Canhotos, que já chegou aqui ao Brasil. Na crendice popular, o canhoto, por ser diferente, ou minoritário, é meio malvisto. Canhoto, aliás, é o próprio Diabo. Hoje se sabe que nada disto procede. Nem na escola se força mais o guri canhoto a usar a mão direita, ou a ser ambidestro. De qualquer forma, há no mancinismo um enigma. Pode não ser sinistro, mas é neurológico. E cá entre nós, três canhotos de uma só vez é dose!