Fila de ônibus no Vale do Anhangabaú, circa 1953. Foto de Alice Brill/ Acervo Instituto Moreira Salles
São minoria os cronistas que não cuidam, cedo ou tarde, de peneirar em livro aquilo que escreveram para o varejo da imprensa.
Entre os graúdos, um dos inapetentes foi Antônio Maria; se bem que o jornalista e compositor pernambucano, levado por um infarto aos 43 anos, pode não ter tido tempo para pensar na consolidação de seus escritos. Outro que se foi sem coletânea de crônicas, aos 70 anos, é Otto Lara Resende, cuja produção no gênero concentrou-se no final da vida – pouco mais de ano e meio em que, cronicando em ritmo diário, pingou quase 600 colunas na Folha de S.Paulo. E também Clarice Lispector, que não apenas se foi cedo demais, aos 57, como tinha com a crônica uma relação sofrida. No seu caso, assim como no de Antônio Maria, ficou para os pósteros a tarefa de administrar e editar a sua produção no gênero.
Quanto aos demais cronistas reunidos neste Portal – Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Rachel de Queiroz –, cuidaram eles mesmos de montar e publicar seus livros. E nesse esforço, ao revisitarem para suas pastas de recortes, muitas vezes retocaram textos produzidos sob o chicote dos prazos e tamanhos impostos pelas redações. Para isso, e também para a seleção de crônicas, Rubem Braga recorreu a dois outros craques da crônica, seus amigos Fernando Sabino e Otto Lara Resende, leitores rigorosos a quem ficou devendo certeiros pitacos, alguns deles registrados em carta.
Os arqueólogos da literatura haverão de constatar que Braga voltou a seus escritos antes mesmo de os organizar em livro. A crônica “A estrela”, por exemplo, com a qual ele estreou colaboração semanal na revista Manchete, em 1953, passou por criteriosa lixa para ser republicada, ali mesmo, em 1961, já então com título definitivo, “A nenhuma chamarás Aldebarã”, que chegaria a livro em A traição das elegantes, de 1967. Coisa de artista, mais que de mero colunista – quem duvidaria?