Menino-anjo, 1963. Foto de Maureen Bisilliat/ Acervo Instituto Moreira Salles
Até onde a vista alcança, Rachel de Queiroz não era dada a patriotismos, menos ainda a patrioteiras, fosse na ficção, fosse na crônica. Difícil imaginar esta cearense de linguagem desenfeitada alçando voos condoreiros como aqueles do baiano Castro Alves para reverenciar o “auriverde pendão da minha terra”. Estridências cívicas de sua parte, nem mesmo nos anos da juventude, quando, por breve e intenso tempo, esteve embarcada na militância comunista, engajamento que lhe custou encrencas com a polícia. Tampouco já cinquentenária, quando, instalada no outro lado do espectro ideológico, andou metida em conspirações que levariam ao golpe de 1964, do qual sairia presidente da República seu parente, amigo e coestaduano Humberto de Alencar Castello Branco. Nas últimas décadas de vida, Rachel gostava de situar-se num doce anarquismo.
Não lhe faltou, em nenhuma dessas fases, dose alentada de amor a seu país, sentimento que, sem derramamentos, trombetas & fanfarras, lhe inspirou uma de suas melhores crônicas, escrita em 1952. O título, “Pátria amada”, é talvez um pouco adocicado para um texto sem excesso de mel, capaz, isto sim, de sugerir uma conversa em que estejam envolvidos a cronista e o leitor apenas, aquele “você” a que ela se dirige. O pretexto para essa fala boa não precisa ser uma data solene, como a proclamação da República que se comemora neste 15 de novembro. Na verdade, não carece ter pretexto algum – basta o gosto de ouvir Rachel dizer, lá pelas tantas, com a melhor cara deste mundo, que “pátria é uma dor no peito”, ali fincada para sempre, uma vez que pátria “não se arranca como tiririca”.