Esta povoação de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, hoje Curitiba, continua crescendo em força e beleza e se espraiando pelo seu planalto de 900 metros de altitude, onde fez, no último inverno, cinco graus abaixo de zero. Edifícios claros e novos, de cimento, vão se erguendo por toda parte; não é difícil imaginar que o ritmo desse crescimento será ainda mais acelerado quando Curitiba sofrer, com mais intensidade, o reflexo do desenvolvimento do norte do estado. A princípio, esse norte foi apenas um apêndice econômico de São Paulo, um prolongamento, além do Paranapanema, da batalha de conquista das terras roxas. Com a ampliação do porto de Paranaguá e a construção de Antonina e o asfaltamento das estradas para o norte, Curitiba voltará a ser a capital de todo o Paraná, e de um Paraná mais forte que começa a tomar, aos nossos olhos, o que chamarei de dimensões paulistas.
Há, nesta cidade, um senso de conforto europeu passado a limpo. Para quem vem do Rio, a impressão é de que a cidade não tem problemas. Certamente os tem; mas não com aquele aspecto desagradável e quase angustioso do Rio; é como se aqui o progresso urbano tivesse trazido seus benefícios e seu conforto sem destruir o que havia de bom e generoso na vida de uma cidade menor. Os lavradores dos arredores continuam a achar um ambiente bom e tranquilo para fazer desta cidade um centro universitário, cujo prestígio cresce sem cessar.
A viagem a Paranaguá, descendo a serra, continua sendo uma das mais belas coisas que se pode fazer no Brasil. Refaço-a depois de muito anos, em uma bela manhã de sol, e vejo com a alegria que se teve o cuidado de preservar, pelo menos em grande parte, essa floresta linda, maravilhosamente florida, que sucede aos campos e pinhais do planalto. Há verdadeiras manchas de cor - ouro, roxo e branco, vermelho, entre bambuais de hastes finas e curvas, fetos, samambaias, imbuias enormes e tortas; e às vezes, sobre o capinzal da margem da estrada, uma extraordinária profusão de flores pequenas e rubras ou longas plantações de lírios que começam a florir. Da janela do trem a gente às vezes está bem perto das árvores invadidas por lianas e orquídeas - uma floresta que, em toda a sua pujança tem uma espécie de delicadeza como não conheço exemplo. Agora que se faz uma nova estrada, comparável à via Anchieta, para encurtar o percurso da antiga estrada da Graciosa, agora que se multiplicam, na descida da serra, os carros de passeio e os imensos caminhões, é preciso que o governo esteja atento para guardar bem essa floresta a que a latitude e altitude deram um encanto único no Brasil - juntando o mistério e a pompa de nossas matas à festa colorida das primaveras italianas.