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1 jul 1961
Duas damas distintas
Paulo Mendes Campos
Manchete
Duas horas da vagarosa tarde de dona Josefa, que se aplica ao ponto de cruz no canapé. É em Copacabana. Do tapete morno, dos reposteiros tristonhos, dos móveis de jacarandá, do espelho em ébano entalhado, do piano de mogno, das porcelanas, de...
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27 abr 1962
Hino carioca
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
Afinal, a marcha Cidade maravilhosa serve ou não serve para hino do estado da Guanabara? A discussão em torno desta pergunta me parece acadêmica, diante da realidade do som coletivizado. Não se trata de hino, porém de marcha? Mas anda na boca...
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21 set 1963
O despertar da montanha
Paulo Mendes Campos
Manchete
Assim como há quem sofra de insônia, sofro eu de despertar. Meu sono é tão nebuloso, tão viscoso, tão atravessado de assombrações e armadilhas, que me custa o indizível ter de me arrastar desse brejo ancestral para as obrigações do mundo...
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3 set 1960
A alma das ruas
Paulo Mendes Campos
Manchete
A funcionária, bonita, desquitada, desejava saber o que o chefe de sua repartição pensava sobre o divórcio. E este: — Divórcio deve equivaler à lei de falência. O comerciante, ao estabelecer-se, não está pensando em fracassar no seu...
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29 out 1960
O inglês
Paulo Mendes Campos
Manchete
As clássicas anedotas ensinam alguma coisa a respeito dos ingleses, mas há uma lógica lírica na excentricidade inglesa que escapa ao anedótico. O homour racial é dado importante à compreensão, mas não explica a dramaticidade latente que...
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6 nov 1955
Pescaria
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Era uma lua tão redonda e tão luminosa que as lanternas elétricas ficaram dentro dos cestos. Em fila indiana, pela picada, carrega-se a parafernália até à pedra. A lua imensa, teatral, doura as nossas costas. Aqui circunscreveremos esta noite...
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18 set 1968
A nova beleza jovem
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
Segunda-feira última, às 15 horas, um ônibus da linha Castelo-Ipanema, este enchedor de papel fez uma descoberta que, se não o conduzirá à fortuna e à glória, pelo menos o manterá pleno de felicidade visual pelo resto da existência. E vem...
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22 ago 1969
Flicts: o coração da cor
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
O mundo não é uma coleção de objetos naturais, com suas formas respectivas, testemunhadas pela evidência ou pela ciência; o mundo são cores. A vida não é uma série de funções da substância organizada, desde a mais humilde até a de...
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30 jul 1969
Na mina das palavras
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
A novidade é que as pernas femininas, neste inverno, ficaram um pouquinho-nada mais cobertas. E não foi por causa do frio. Foi providência do professor Aurélio Buarque de Holanda, que acrescentou um “s” à mini-saia. Seu Vocabulário...
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12 fev 1969
Enquanto varria as folhas
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
O gari veio perguntar-me se já tinha sido feita a confusão da Guanabara com o estado do Rio. Em caso afirmativo, queria pedir remoção para o Arraial do Cabo, onde a vida é mais azul.   — Que é que você chama de confusão da Guanabara com...
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2 fev 1969
Chope com sabiá
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
Pelo visto, a coisa está ficando cinzenta-negra para os sabiás. Não me refiro aos editores Fernando Sabino e Rubem Braga, os quais vão bem, obrigado, mas aos sabiás propriamente ditos. Outro dia, no Garota de Ipanema, um senhor de aparência...
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6 jun 1973
Nudez
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
A filha tentava convencer a mãe a ir à praia e a velha resistia: estava muito idosa e gorda para vestir maiô. — Mas, mamãe, eu já vi de maiô, na praia, muitas senhoras mais velhas e mais gordas do que você! E a velha, suavemente: — Eu...
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14 abr 1971
O Rei Pelé
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Afinal tive outro dia a oportunidade de ver Pelé, não apenas na tela da TV, envergando a famosa camisa dez, não ao sol do campo ou sob os holofotes do Maracanã; fui apresentada ao Rei no território amigo da nossa José Olímpio, apertei-lhe a...
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24 fev 1962
Odylo, o jornalista
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Ontem, numa roda de amigos, discutia-se jornalismo e jornalistas, quando de repente alguém suscitou a pergunta inevitável: qual o mais completo jornalista brasileiro, entre os atuantes? E a resposta veio numa curiosa unanimidade, tratando-se de um...
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Suspeita & crime
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Afinal acabaram descobrindo quem matou Rubens Berardo; o criminoso já confessou, era um assaltante comum. E este triste episódio criminal me tem levado muito a meditar na crueldade do noticiário de imprensa quando ocorre um crime desses,...
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2 mar 1974
Perfil a lápis
Paulo Mendes Campos
Manchete
A ecologia era esta: vovó me dava doces. Vovó me deu um Menino Jesus de barro. Mamãe comprava palmito para a minha salada de alface. Papai fazia cadernos para que eu estudasse. Tia Zizinha cortava-me as unhas com muito carinho. Tia Nininha...
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3 set 1989
O poeta estranho
Paulo Mendes Campos
Jornal do Brasil
Amigo meu, escritor de sucesso (conceito e faturamento) costuma dizer-me que a literatura já era. Diz e demonstra. Concordo com ele e vou além: tudo já era, menos a sobrevivência das multidões. Não há mais nada de interesse categórico em...
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30 maio 1953
Caderno velho
Paulo Mendes Campos
Manchete
Foi entre 20 e 23 anos que enchi de notas este caderno grosso, de capa vermelha. Era mais profundo e pretensioso do que um abismo. Hoje, relendo-o, não chego a rir-me, nem a irritar-me, mas apenas concluo que, se o tempo, por um lado nos desgasta e...
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20 fev 1955
Diálogo
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
— A menina abre o livro ilustrado que conta a história de Cinderela. — Papai, quem é essa moça?  — Cinderela.  — Por quê?  — Porque o nome dela é Cinderela. — Por que o vestido dela é feio? — Porque ela é pobre. — Por que...
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31 ago 1957
Di
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Eu ia por um caminho, encontrei Di Cavalcanti. Sempre o encontrei. Poucas, muito poucas vezes, marcamos esses encontros. Nunca foi preciso. A primeira vez foi em Belo Horizonte, 43 ou 44, onde o pintor realizou uma conferência mais ou menos...
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12 jun 1966
Namorados no mundo
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
Gratas imagens Na Tanzânia, país africano socialista, os namorados recebem do governo duas coroas de flores, ele as azuis e ela as vermelhas, todos os sábados pela manhã, durante três meses. Findo esse prazo, faz-se a união. Uma delegação de...
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