E de repente nós nos lembramos das damas antigas, dos velhos romances: como guardavam coisas nos seios! Dali tiravam o punhal, a flor, o veneno, maços de carta, lenços, bicicletas. Ah, é talvez por isso que as mulheres de hoje perderam tanto de seu mistério. Levam apenas seu revólver na bolsa, e nada mais.

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E também como suspiravam, as damas antigas. Suspiraram diligentemente até os últimos filmes italianos de antes da Primeira Grande Guerra. Depois apenas me lembro da Greta Garbo, em um de seus primeiros filmes, dar um suspiro e dizer: "music…". Mas ainda essa não tinha mais aquele belo movimento de busto que acompanha o suspiro.

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E nem ao menos desmaiam mais, essas senhoras de hoje. Quando o fazem é apenas por mau estado de saúde, físico ou mental. Antigamente o desmaio era um gesto, uma atitude, um recurso normal de mímica; quase que fazia parte da conversação. Não que fossem falsos desmaios. Não; eram sinceros e naturais. As moças aprendiam a desmaiar como a tocar piano, a fazer bordados, a falar francês.

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 E também enrubesciam; e escondiam o rubor com o leque. Também conversavam com o leque. Os intelectuais faziam conferências sobre o leque. Seria difícil supor que a humanidade pudesse sobreviver sem o leque.

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Não, os homens da minha geração não chegaram a conhecer essas belas coisas: leque, desmaio, suspiro, mistério dos seios. Talvez por isso olhamos às vezes nossas mulheres um pouco espantados depois de um pequeno silêncio. Elas usam as doces expressões que aprenderam nos filmes americanos. Mas em certos momentos sentimos que lhes falta alguma coisa. E bebemos, para esquecer.

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