Consultados, os pescadores disseram: "dr. Odorico Tavares, o sr. pode marcar a festa para sábado".

Eles tinham, mirado o mar, cheirado o vento, olhado o céu e contado nos dedos os dias da lua.

"Deve chover esses dias, e mesmo no sábado de manhã é capaz de chover. Mas quando a lua cheia romper com toda força, a chuva vai parar".

Os pescadores de Itapoã disseram isso. E depois, com seus filhos, começaram a arrumar o largo da matriz, esticando fios para pendurar lâmpadas e bandeirolas. Enfeitaram todo o cruzeiro. A praça é simples: uma igreja branca de frente para o mar; ao lado, casinhas térreas. Do lado do mar, apenas um coqueiro torto. Atrás da igreja e das casas, um mar de coqueiros. E à noite o palanque cheio, representante do governador da Bahia, o prefeito de Salvador, vereadores, deputados, os amigos do homenageado, orquestra com piano que tombou um pouco o palanque para a esquerda, e senhoras e senhoritas. E em volta, povo, povo, povo. No alto, entre nuvens brancas tangidas pelo vento, imensa e solitária, a lua. Na frente do palanque um homem de 39 anos de cabelos brancos e violão em baixo do braço e nome na placa da rua: Dorival Caymmi — escrevemos Caymmi assim com uma ortografia bem rococó, bem baiana.

Do Rio havia: Odete Amaral, toda tropical, e Doris Monteiro de trança por cima do seio esquerdo e progenitora  portuguesa ao lado; Antônio Maria, Carlinhos Guinle, os locutores Osvaldo Luiz e Reinaldo Dias Leme, e cantor Déo, o trio Nagô, Indalécio da revista O Cruzeiro e Braga, dos meios da imprensa. Houve muito discurso, porque Bahia, além de ser Brasil, é Bahia; o de Antônio Maria deu uma pane no transmissor; dos que foram ouvidos o melhor foi o do prefeito Osvaldo Gordilho, que assistiu a festa toda e na hora de falar teve o bom gosto, a sapiência, a elegância, a caridade, a nobreza, a inteligência e a finura de dizer apenas isto: "É com a mais viva satisfação que, comungando com todo o povo da minha terra, considero inaugurada, com o nome de Dorival Caymmi, a praça da Matriz de Itapoã". 

Depois os vereadores e pessoas graúdas deitaram grandes verbos: Dorival agradeceu com umas frases simples e belas, e cantoria começou. O desenhista Carybé, o escultor Mário Cravo, o Hugo do Lóide Aéreo, o Monte, do Hotel da Bahia, o gravador Poty e, entre outros senhores e senhoras, o Braga, dos meios da imprensa, saíram da praça, foram ouvir de longe, na praia onde as espumas brilhavam ao luar, e os coqueiros e o mar cantavam como antigamente, no tempo de Dorival menino, as cantigas que depois ele trouxe para nós todos.

O litro de cachaça durou bem pouco, pois a noite era bela e o amigo era praça.

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