Apenas passo os olhos pelos jornais; jogo-os fora, alegremente, porque eles pretendem me dar notícia de muitos problemas e eu não tenho, nem quero, problema nenhum.
Acordei um pouco tarde, abri todas as janelas para o sábado louro e azul, e o mar me deu bom dia. Passa um pequeno barco branco no mar de safira: como vai ligeiro, como vai contente, com seu bigodinho de espumas brilhantes! Uma ave se detém um instante peneirando, depois mergulha na vertical em grande estilo; quando volta, um pequeno peixe brilha em seu bico.
Chupo uma laranja e isso me dá prazer. Estou contente. Estou contente da maneira mais simples ― porque tomei banho e me sinto limpo, porque meus braços e pernas e pulmões funcionam bem; porque estou começando a ficar com fome e tenho comida quente para comer, água fresca para beber.
Nenhuma tristeza do mundo, nem de meu passado, me pega neste momento. Tenho prazer em ver que a Ilha Rasa está lá direitinha, em seu lugar, com seu farol branco. Vejo ao longe, saindo da praia, o Paulo Mendes Campos e o Millôr Fernandes. Aceno para eles, mas não me veem; estão conversando e rindo. Tomaram seu banho de mar, vão almoçar: estou contente porque os amigos vão bem e suas mulheres esperam criança. Saúde e prosperidade! Estou contente porque a linda Beatriz, que eu só conheço de vista, escreveu para Lourdes dizendo que Paris está bom e ela está bem. Felicidades, Beatriz linda!
Ora, considerando que a felicidade é uma suave falta de assunto, eu me despeço de todos com um cordial bom dia e vou almoçar. Não quero contar prosa, mas tenho arroz, feijão, carne, alface, laranja, pão, tudo o que um ser humano necessita para viver bem. Meu amigo Reinaldo vem honrar a minha mesa; falaremos com simpatia das mulheres bonitas e amigas desta formosa capital. Conversa de brasileiros! Bom dia, passem bem todos com suas famílias, com suas amantes, com seus amigos!