Esperemos que, depois da aprovação da Câmara, não seja demorado o trânsito, até a promulgação, da lei que destina um auxílio federal à construção da sede do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Os jornalistas e deputados que defenderam esse projeto (ele andou seriamente ameaçado) disseram tudo o que se poderia dizer sobre a necessidade de amparar uma instituição de tão evidente importância cultural. Houve muitas frases sobre o valor das coisas de espírito e a transcendência da arte. E estava tudo certo.

Mas acho que é tempo de acentuar também o valor prático dessa iniciativa. Museu hoje não é apenas um lugar onde se guardam as obras de arte. Se continua a ter essa função, tem ainda outras, de valor educativo, que vão desde a organização de exposições capazes de afinar o gosto estético do público, até o ensino direto das várias artes plásticas. Nossos artistas, em sua maioria, não têm sequer local adequado para trabalhar — nem os pintores, que dirá os escultores. Criar facilidades para os artistas, e para os que desejam aprender arte, não é apenas bonito, é útil. Ainda não se inventou, por exemplo, melhor processo para ensinar desenho do que a aula com modelo, em que o mestre ensina os detalhes técnicos e, fora disso, funciona apenas como orientador, deixando ao aluno a margem de liberdade essencial ao trabalho artístico. E tanto há arte moderna desinteressada como aplicada; não há motivo nenhum para que um museu de arte moderna realmente moderno despreze as inumeráveis aplicações práticas do desenho e da pintura — publicidade, mobiliário, indústria têxtil, modas, etc. Quem hoje faz uma casa moderna custa a encontrar, por exemplo, quando encontra, talheres que combinem com o ambiente. Há mil e um objetos de uso cujo desenho permanece, em nosso país, obsoleto. Exatamente agora, quando o surto industrial é mais forte, é imperiosa a necessidade de muitos bons desenhistas novos capazes de criar formas que equilibrem o funcional com o conforto e a beleza.

Um Museu de Arte Moderna — que será forçosamente, também uma Escola - terá de prestar atenção a essas necessidades. Será, na realidade, o núcleo central da criação de um estilo de nosso país e de nosso tempo. O comerciante precisa de quem saiba arrumar uma vitrina que "venda" o produto, assim como o dono da fábrica de cristais precisa de quem desenhe um vaso, o jornalista de quem pagine o jornal ou a revista, etc. Há mil aplicações práticas do desenho e da pintura, e elas têm uma grande importância econômica; a esta altura de nossa evolução ninguém mais duvida que os profissionais de que carecemos só podem vir de uma escola moderna. 

Mesmo que se limitasse a expor obras de arte ou promover conferências, o Museu já teria uma grande importância nesse terreno, como educador do bom gosto. Mas o que todos esperamos é que ele seja realmente moderno e, sem perder de vista a necessidade de resguardar e estimular a criação da pura obra de arte, que vale por si mesma, ele abra suas portas para os que procuram apurar e aplicar na vida prática o talento plástico trazido do berço. O exemplo de outros países mostra que essas "frivolidades" podem ter uma tremenda importância econômica.  

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