Os que fugiram para a montanha jamais saberão desse mar que perderam, esse mar de Natal de beleza sem igual, cor de anil, gentil. Os que fugiram para a montanha jamais suspeitarão como o sol era bom e como a água era boa, e como neste mundo salgado foram as moças em flor abençoadas pela grande luz, mais indolentes na praia, mais vivas no mar — houve risadas e corridas, e grandes bolas coloridas.

Tudo fez bem. Uma bela festa honesta, o sol batendo na testa e os cabelos brilhando, e crianças nuas rindo, rindo com seus dentinhos brancos brilhando.

Muito me lembrei de ti, mulher de risada clara e corpo fino, mas foi suave a tua lembrança — tua nobre presença à lembrança a imagem da Pátria nos traz! Sabe que pensei em ti com saudade, mas alegria, porque a manhã se parecia contigo, com tua substância de onda e de luz e porque na vida só me fizeste bem, talvez porque não quiseste ficar e eu não quis te prender, apenas passaste, como a carícia da brisa do mar. Daqui, destas praias de luz, te mando minha mensagem de carinho e saudade, e que alguém te faça tanto bem quanto fizeste a mim.

Dito o que, me volto para as damas presentes, e vejo que são estimáveis. Qual de amor se tortura e sozinha, na cama noturna, interroga as paredes em vão; a esta eu digo: amor com amor se apaga e a alegria de um desamado é agora te ver desamada — aguenta a mão! Tal me vem de lábios em flor e alma no ar, e esta não sabe o que quer, nem porque veio, nem porque se irá.

E há outras que sob os olhares dos homens de leve estremecem, pois está maduro. Mesmo na praia, sob os grandes chapéus, belas e seminuas, têm um ar de mistério. Amai para entendê-las — que amando, nas praias de luz, sentireis, além do louro sol e do céu azul, a cintilação quieta e invisível das estrelas.

rubem-braga
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