Marilyn Monroe está dando alteração no Brasil. Existe um tal senhor Pais de Carvalho que fundou uma Associação dos Pais de Família e que representou em juízo contra a revista Manchete por haver publicado uma fotografia em cores da moça nua.
Certamente o curador de menores não levará a sério essa representação, pois seria ridículo confundir uma revista de categoria de Manchete com essas revistecas de “nu artístico” ou de piadas pornográficas circulantes por aí. Em primeiro lugar é bom dizer que a fotografia não saiu sem motivo, ela serve de ilustração a uma reportagem de Nova York sobre o processo que a atriz está movendo contra a exploração dessa sua “pose” antiga, da qual já teriam sido vendidos 100 milhões de cópias. Não seria possível ilustração mais adequada e necessária, do ponto de vista jornalístico.
Além disso, a “pose” não é imoral; impossível descobrir qualquer obscenidade nessa “pose” langorosa que só despertou maior interesse porque o modelo mais tarde se transformou numa “estrela” popularíssima.
A foto é, na verdade, apenas vulgar, e atende ao gosto médio americano, que inclui um desenvolvimento desagradavelmente acentuado do busto. Não sei quais são as preferências, nesse particular, do sr. Pais de Carvalho, mas acho exagerado de qualquer modo que ele recorra à Justiça para fazer valer seu ponto de vista. Fotografias muito mais provocadoras e excitantes aparecem todo dia nas revistas do Brasil e do mundo inteiro, com a meia-nudez valorizada por ângulos marotos. Até a publicidade comercial as utiliza em jornais e cartazes. Talvez o sr. Pais de Carvalho tenha alguma implicância especial com ou contra a alegre e medíocre Marilyn; não vejo outra explicação para o fato de se comover ele tão ativamente com essa fotografia da artista nua feita com uma composição de gosto tão barato e vulgar que chega a ser ingênua. Há alguma coisa ali que lembra essas vitrolas automáticas de bar; a Marilyn sobre fundo vermelho, sonhando seus “Golden Dreams” combina bem com essa obra-prima do barroco industrial norte-americano que no futuro será uma peça de extraordinário valor em um museu de mau gosto.
Não pensem, por favor, que estou fazendo pouco da moça. Apenas desconfio que essa página de revista perturbou mais o sr. Pais de Carvalho do que os jovens cuja moral ele procura defender. É uma questão de gosto, ou de temperamento, que não se discute. Mas também acho que a Justiça não tem nada com isso e se eu fosse o curador de menores juro que não me envolveria em questões com Marilyn Monroe, que afinal de contas é hoje uma senhora casada; isso só pode dar em vexame.