Não encontro Augusto Ruschi em Santa Teresa, ele está viajando, mas visito a sua casa que é hoje o Museu de Biologia Professor Mello Leitão.

Gostaria de conhecer esse homem que entende de plantas e bichos e que desta pequena cidade serrana do interior do Espírito Santo se corresponde com naturalistas de muitas partes do mundo. As construções crescem dentro do parque; há pavilhões com centenas de bichos, empalhados ― pássaros, cobras, corujas, gaviões, toda uma fauna imóvel e meio lúgubre nessa caricatura da vida. Prefiro ver as orquídeas e as estampas de orquídeas, a coleção de gravatás, as pequenas jaulas de bichos e os viveiros de aves. Pergunto o que é uma construção retangular: é um morcegário que se ergue.

Mas na varanda da casa é que está o grande encanto, a verdadeira delícia deste passeio. Ele pendurou ali muitos pequenos bebedouros de passarinho, e os encheu de água com mel ou açúcar. A todo momento entram os beija-flores, às vezes pousam nos bebedouros, às vezes se imobilizam no ar junto deles, como pequenas joias vibrando de vida e com os longos bicos sorvem a água. Nossa presença não os espanta, eles chegam num zunir súbito, vindo do parque, dão voltas no ar, bem junto de nós. Um rapaz que me acompanha diz que quando as árvores em volta estão muito floridas eles aparecem menos na varanda; quando as flores escasseiam eles vêm em bandos.

Neste momento há quatro, e apenas dois são iguais na cor e no tamanho: a confiança com que eles esvoaçam em torno de nossas cabeças, junto de nossas mãos, a beleza das cores e movimentos desses pássaros frágeis e lindos como flores e poderosos e vibrantes como pequenas coisas elétricas, deixam o visitante enlevado, eu me sinto como alguém melhor, como se eu tivesse algum mérito em estar aqui e não espantá-los, secretamente agradecido porque eles descobriram dentro do homem estabanado e sem jeito a fome da pureza e de amizade.

rubem-braga
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