A casa das seis mulheres amanhece tarde e lenta; chegam duas tão lavadas, penteadas, com perfumes, louçãs e se olham passeando no capim, perto da piscina azul, e lhes dá vontade de fotografias. Chegam mais duas de shorts coloridos; depois uma some como por encanto, mas surge outra. Na casa das seis mulheres nunca são vistas seis mulheres; duas se afastaram para se dizer segredos, ou uma está lá dentro falando ao telefone, e quando vem contando uma história, outra sai correndo para mudar a blusa.

A vida é uma tarde de domingo; chove com energia, faz sol com prazer, há flores, vidros, luz e sombra na casa das seis mulheres. Os homens que chegam se sentem bem; mas os homens são transitivos; chegam, com suas vozes grossas, bebem tilintando gelo nos copos, fumam e partem; os homens são como sombras lentas e fortes, mas apenas sombras. Podem deixar algo no coração e nos segredos de alguma das seis mulheres, mas depois mergulham no cinzento de seus quotidianos e a casa das seis mulheres continua limpa, luminosa e transparente entre árvores e flores.

Talvez seja para eles que as seis mulheres estão sempre se lavando, se penteando, se pintando e cambiando saias imprevistas e trescalando fragrâncias matinais ou sensuais — entretanto elas permanecem suspensas na indolência das tardes de domingo e os homens, seres broncos, se apagam longe, são apenas ecos de telefone, fotos perdidas em álbuns fechados nas gavetas escuras. As seis mulheres continuam se lavando, se penteando na luz vesperal, e a casa das seis mulheres espera feliz entrar no bojo da noite cheia de estrelas carregando o sono e o sonho de cinco ― porque sempre uma saiu, ou foi misteriosamente à sala escura, ou a um canto vigia, ou, escondida, se abandona ao pranto.

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