Já me haviam contado que nos países hispano-americanos a data da independência nacional é muito mais comemorada que no Brasil. Mas eu nunca havia visto. E os jornais do Chile se queixavam de que o 18 de setembro não tem mais aquela solenidade e aquela vibração popular de antigamente.
Não sei como era antigamente. Mas hoje em dia é uma festa muito maior e principalmente muito mais popular que o nosso 7 de setembro. A parada do parque Cousiño, em Santiago, é na verdade um belo espetáculo que não reúne apenas o mundo oficial e o corpo diplomático, mas grande massa de povo, e povo de todas as classes. Famílias operárias e da classe média comparecem em peso, há senhoras elegantes nas arquibancadas, como em uma grande tarde de hipismo. O garbo e a precisão da tropa são impressionantes, as bandas militares excelentes, a cavalaria passa galopando, avançam os esquiadores em seus uniformes brancos e os trenós puxados por cães para o transporte nas zonas geladas; depois unidades em uniformes vermelhos, azuis, numa pompa colorida.
Mais tarde, na bela e ampla Alameda, outros milhares de pessoas aplaudirão os soldados que avançam em passo de ganso, herança da antiga missão militar alemã. Mas no parque imenso uma grande massa de povo ficará toda a tarde e pela noite adentro até o fim da madrugada, em barracas e bailes improvisados, tomando “chicha” e vinho, comendo “churros” e pastéis, dançando, de lenço na mão, a alegre “cueca” tradicional.
O dia 19 é tão feriado como o 18, mas as festas na verdade começam no dia 17, quando não antes. E há em Santiago e por todo o Chile uma infinidade de festas particulares em que os convidados aparecem vestidos de huaso (o gaúcho daqui) e se come churrasco e (empanadas) e além das canções tradicionais todo mundo canta o hino nacional. Fui a uma dessas festas e o hino nacional chileno foi cantado duas, três vezes, por todos os presentes; por sinal que ele me parece meio triste. Mas no Brasil quem sabe cantar o hino nacional? Também a bandeira chilena é mais popular que a brasileira, e uma semana antes do Dia da Independência a gente encontra pelas esquinas sujeitos vendendo bandeirinhas chilenas e de outros países — do Brasil não, que é muito cara e difícil de fazer. De resto em qualquer domingo comum a gente indo pela estrada vê de vez em quando, diante de uma casa de lavrador, a bandeira chilena desfraldada, muito viva e alegre.
Por que essas diferenças? Pensaremos nisso em outra crônica.