Publicada, posteriormente, em Ai de ti, Copacabana, Editora do Autor, 1960.
SANTIAGO DO CHILE, outubro - Passei dias no escritório lendo coisas, escrevendo coisas, discutindo coisas, telefonando, providenciando, funcionando. E, enquanto isso, ela invadia a bela República do Chile e dançava e sorria por todos os campos, entre a cordilheira e o mar. Ela havia chegado, e eu não a vira, a primavera.
Árvores carregadas de flores; a brisa espalhando no ar leves painas, pólens, sementes de amor. Que verde alegre, vivo, de folhas novas! Mas o campo de trigo novo está brilhando ao sol com mil flores amarelas. Pergunto ao lavrador que trabalha como se chamam essas flores lindas que nascem no trigal. Ele me olha com admiração por ver um homem tão ignorante e responde: “yuyo”. Tenho um ataque de inteligência e traduzo: joio.
É o joio, eterno irmão do trigo, irmão pobre e ruim que é preciso separar do irmão rico e bom. “Separar o joio do trigo...”
Mas não agora, no começo de outubro; nosso irmão joio é que estende o tapete dourado para que a primavera venha bailar ao sol, na República do Chile.