Durante a semana a gente vive catando num jornal e outro um telegramazinho do Brasil. Não acha quase nada. Segunda-feira à tarde chega a batelada de jornais do Rio e de São Paulo e então a gente se precipita para ver como está a “coisa”.

Escrevo numa segunda-feira à noite, estou cansado de ler jornais. A “coisa” está mal. Há mais candidatos, cada vez mais candidatos e menos esperança.

É evidente que não tenho autoridade nenhuma para passar um pito em meus concidadãos, mas gostaria que vocês imaginassem como é estranha e mesquinha essa paisagem política vista assim de fora, de longe. Não, a impressão que dá não é de beira de abismo nem de navio naufragando. É menos dramática e mais penosa: parece uma porção de gente atolada num brejo, cada pessoa querendo arrastar outra em uma direção diferente. Ambiciosos vulgares, homens de alma limpa, aventureiros e patriotas, todos se confundem em certo momento nesse brejo, todos estão gritando, ninguém está ouvindo.

A distância dá à gente um falso sentimento de superioridade e também de alívio. De superioridade por estar vendo a “coisa” de fora, sem a paixão que produz o atrito direto e diário das discussões, dos boatos, das pessoas. Alívio por não se sentir obrigado a opinar, a ser mais uma voz perdida no meio desse falatório confuso. Mas — que diabo! — cada um de nós continua um pouco do Brasil. E então vem a vontade de sentar à mesa, abrir a máquina, como fiz agora, e dar palpites, dar conselhos, chamar a atenção dos leitores para isto ou aquilo.

Foi o que aconteceu comigo neste momento. Sentei-me, comecei a escrever; já me arrependi. A “coisa” está confusa, embrulhada, triste, feia: se vocês não a entendem bem, muito menos eu. Arrumem-se! Divirtam-se!

Minha ausência pode não lhe dar prejuízo nenhum, mas bem também é que não faz. Da última vez que morei fora do Brasil vocês fizeram isto: elegeram o sr. Getúlio Vargas. Viram em que deu?

rubem-braga
x
- +