Com seu milhão e meio de habitantes Santiago está desse tamanho em que uma cidade já não tem a monotonia de uma cidade pequena e ainda não tem os problemas aflitivos de uma cidade grande. Vida social animadíssima, todo mundo parece gostar de se reunir, beber (muito) e principalmente dançar. Como dança o chileno! Não é um nem outro, é todo mundo que dança, bem ou mal, gordo ou magro, moço ou velho, e muito, e com uma grande alegria. Para mim, que danço muito mal, o Chile tem esta vantagem: Aqui, se me dá na veneta, posso dançar à vontade, porque todo mundo está dançando e ninguém repara no sem-jeito. A vida noturna é relativamente animada e, em comparação com o custo da vida, muitas vezes mais barata que no Brasil, o país das boates caríssimas.
Os santiaguinos se queixam às vezes do transporte difícil, das complicações e problemas da vida urbana... Queixam-se de barriga cheia. Para quem vem do Rio tudo aqui é fácil e ameno, encontrar o ônibus elétrico, o ônibus, o pequeno lotação que eles chamam de liebre, o táxi muito mais barato que no Brasil. E também arrumadeira, cozinheira, jardineiro que vem uma vez por semana — porque a grande a pequena burguesia de Santiago se dá ao luxo de viver em casas, com jardim, quintal, galinheiro. Mora em apartamento quem quer, ou quem deseja viver bem no centro; os bairros residenciais são perto do centro e são bem arborizados, com seus largos canteiros de grama no passeio, com pequenas pracinhas ajardinadas de vez em quando — com muito mais verde, muito mais sossego e beleza, muito mais espaço que o bairro mais grã-fino do Rio de hoje, aquele que fica além do canal do Leblon. Há, certamente, como também no Brasil, muita miséria nos bairros pobres, e o frio faz a pobreza mais dolorosa; mas a classe média tem muito mais conforto e mais folga. Por isso, talvez, o homem da rua seja tão delicado, tão cordial, tão gentil para qualquer forasteiro, e tão frequentemente faz uma observação engraçada e amiga — assim como era o carioca há uns vinte e tantos anos.
Santiago de milhões de árvores, Santiago de doces alamedas, com sua gente de boa vontade, de sorriso animador, de fala cantante cheia de diminutivos, com um velho canhão dando um tiro ao meio dia no Cerro de Santa Lucia — Santiago é uma cidade que está na idade boa em que as cidades e as mulheres já não são bobocas e ainda não ficaram azedas.