Parece que ninguém teve a ideia, durante a visita de De Gaulle, de lembrar um nome que certamente lhe seria grato: o de Georges Bernanos. O autor de Journal d’un curé de campagne, inválido da Primeira Grande Guerra, veio para o Brasil durante a Segunda. Daqui se correspondia com De Gaulle, que o mandou chamar à França logo depois da vitória.

Alguma coisa sobre a estada de Bernanos, no Brasil, pode ser lida no livro de Carolina Nabuco, sobre Virgílio de Melo Franco. De Bernanos, homem de temperamento forte e pitoresco, circulam muitas histórias. Era um homem de polêmicas, e aqui mesmo arranjou uma com o Sr. Oto Maria Carpeaux, muito feroz e engraçada: é uma curiosidade que não deve ser esquecida por quem organizar uma antologia de polêmicas no Brasil.

Paulo Mendes Campos conta que Bernanos teve um verdadeiro acesso de fúria, em Belo Horizonte, quando os alemães tomaram Paris. Sentiu que estava com ódio não somente dos nazistas, mas também dos alemães em geral. Como católico sabia que não devia odiar uma nação, uma raça. Sentia esse problema de consciência. Resolveu então confessar-se, e, para praticar um ato de verdadeira humildade, confessar-se a um padre alemão. Procurou para isso a igreja de São José. Ajoelhou-se no confessionário. Antes, porém, que ele dissesse qualquer coisa, o padre, que não o conhecia, vendo seu ar contrito, perguntou-lhe: “tem feito muita bobagem, meu filho?” 

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