Publicada, posteriormente, em A companheira de viagem, Editora do Autor, 1965.
Há tempos o poeta me havia falado num amigo seu que conhecia um agrônomo suíço, interessado em administrar fazendas. Ora, outro amigo meu estava precisando exatamente de uma pessoa assim. Consegui pelo telefone localizar o poeta no bar:
– Você se lembra daquele agrônomo que um conhecido seu...
No bar fazia um barulho infernal. Ele mal ouvia a minha voz:
– Daquele o quê?
– Daquele agrônomo!
– Você está enganado, não conheço ninguém com este nome.
– Mas nem falei ainda o nome dele! É um suíço...
– Luís?
– Suíço! Você um dia me falou...
– Não conheço nenhum Luís. Eu estava pensando que você...
– Fale mais alto! Sua voz está sumindo.
– Não, estou por aí mesmo... Você é que anda sumido.
Respirei fundo e voltei à carga:
– Eu sei que você não conhece o suíço. Um amigo seu é que...
– Que brincadeira é essa? Suíço?
– Isso!
– Isso? Ah, eu tinha entendido suíço, imagine.
– Pois é isso mesmo, quer dizer: suíço mesmo. O homem está em cima de mim para arranjar...
– Que homem? Não estou entendendo nada, muito barulho aqui.
– Um amigo meu, você não conhece. Está precisando de um agrônomo para a fazenda dele.
– Fazenda o quê?
Perdi a paciência:
– Olha, telefona para minha casa amanhã, está bem? Conversar com bêbado dá é nisso.
– Você está bêbado?
– Bêbedo está você, esta é boa!
– Espera! Não precisa se zangar. Entendi direitinho você falar que estava bêbedo. Deve ser o barulho. Espera um pouco.
Ouvi pelo telefone sua voz para os que o rodeavam:
– Vocês aí, querem falar um pouco mais baixo, por favor? Um amigo meu está em dificuldades, e eu não escuto nada.
De novo para mim:
– Alô! Pode falar agora que estou ouvindo perfeitamente. Você está precisando de alguma coisa?
– Estou: que você me telefone amanhã de manhã.
E desliguei.