Fonte: A revolução das bonecas., Sabiá, 1967, pp. 7-9. Publicada, originalmente, no Caderno B, do Jornal do Brasil, de 23/03/1966 e, posteriormente, inserida à crônica"Vasos comunicantes", publicada no Jornal do Brasil, de 9/08/1978.
José Carlos Oliveira nasceu em Vitória do Espírito Santo, no dia 18 de agosto de 1934. Foi fotografado nu, com uma chupeta ao pescoço, quando contava nove meses de perplexidade. Rolou pela ladeira e amassou o crânio. Muitos anos depois, passando casualmente a mão naquele pedaço amassado de cabeça, Otto Lara Resende diria: “Ah! É aqui que está o teu talento”! Teve uma infância bastante infeliz e uma adolescência agitada por sonhos colossais. Depois arrumou a mala e veio buscar a glória no Rio de Janeiro. Não conseguindo a Glória, ficou morando lá perto, no Catete; mais tarde se transferiu para Copacabana. Publicou quatro livros: Os olhos dourados do ódio, crônicas, em 1962; Dois dias frios no meio do verão, romance, em 1967; A verdadeira razão pela qual fracassei na vida, uma obra de autoflagelação escrita em 1970 e publicada dois anos depois; e a discutida Trilogia do desespero, que lhe daria o Prêmio Nobel em 1975. Nessa altura já estava na Academia, ocupando a vaga de Osvaldo Orico.
J. C. O. casou-se em abril de 1963 com a jovem Heloísa Russel, da nossa melhor sociedade, com a qual teve quatro filhos homens. Dois deles morreram num desastre de automóvel quando ainda eram crianças, e os outros dois escaparam da morte, mas não de um pai tirânico que os submeteria a uma disciplina de jesuíta. Heloísa Russel pediu e obteve desquite em 1968, casando-se novamente, desta vez com Rubem Braga, em 1969.
Já detentor do Prêmio Nobel, o controvertido escritor brasileiro fixou residência em Londres, cidade que amou como a nenhuma outra, e se declarou acometido de terríveis dúvidas de caráter religioso. (Nunca em sua vida alcançaria a graça do ateísmo completo.) Deixando de lado a literatura, escreveu diversos argumentos cinematogrãficos que foram realizados por diferentes cineastas de seu país, mas que fracassaram todos, na crítica e na bilheteria.
Em abril de 1983, em Paris, no Hotel de la Paix, encontraram-no morto, vítima de um edema pulmonar. Sentira a aproximação do fim com uma lucidez desconcertante, tanto que já havia formulado as disposições relativas ao destino do corpo. Cremaram-no e jogaram suas cinzas no mar, em frente à Ilha Rasa.