coluna: "Gente da cidade"
Antônio Maria Menino Grande Ninguém Me Ama Araújo de Morais nasceu em 1921 na celebrada (por Manuel Bandeira) rua da União, no Recife; o pai era senhor de engenho, e a mãe, filha de usineiro. Fez os cursos primário e secundário no Colégio Marista, onde foi contemporâneo do poeta João Cabral de Melo Neto e do cientista João Leite Lopes.
Depois do ginásio, fez dois anos do pré-técnico, mas na hora do vestibular para agronomia resolveu limitar-se a um curso de adubação e irrigação, findo o qual meteu-se por um ano nos canaviais a mexer com terras e águas ― e voltou para o Recife e foi ser locutor da Rádio Clube de Pernambuco, dando um duro tremendo. Por exemplo: aos domingos, trabalhava 11 horas consecutivas.
Conheceu Fernando Lobo, que o levou pela primeira vez a um cabaré, aconselhando-o a largar o emprego horrível; largou, ficou três meses no ora-veja, voltou como espíquer esportivo. Em 1940, esteve no Recife o Henrique La Roque de Almeida; conheceu o rapaz, não disse, não prometeu nada, mas quando chegou ao Rio escreveu: tinha arranjado para ele irradiar futebol na Rádio Ipanema em um programa do Cassino Atlântico.
Veio, atuou com o nome de Araújo de Morais (“depois achei que parecia nome de laboratório farmacêutico”), mas no fim de um ano voltou para o Recife onde ficou em 1942 e 1943, então já escrevendo programas; em 1944, foi dirigir para os Associados a Ceará Rádio Clube, em 1945, a Rádio Sociedade da Bahia; ficou popular, foi candidato a vereador, sua eleição era uma barbada, seus comícios, com automóveis e show, eram os maiores, mas às vésperas do pleito (1947) houve um acidente e uma forte campanha pessoal (o popular Jacaré fazia comícios contra); perdeu a eleição, foi amplamente vaiado e ameaçado de surras.
Em 1948, veio para o Rio como diretor da Tamoio e da Tupi e foi também o primeiro diretor da televisão, mas hoje está convencido que só deve dirigir mesmo automóvel, sua mais visível paixão. Em 1952, passou-se para a Mayrink e hoje escreve, ensaia e faz semanalmente três programas (média de 13 páginas datilografadas cada um) para a Mayrink, um para a Nacional de São Paulo, aonde vai toda semana, além disso a sua crônica de Manchete e seis crônicas para o Diário Carioca. Ninguém entende muito bem como consegue ser visto pelos bares e madrugadas, como pôde ser diretor artístico do Vogue, escrever o atual show do Casablanca e fazer letra e música de tanto samba-canção para ajudar nosso povo a ficar triste com mais suavidade. Com 1,82 de altura e um peso, digamos assim, imponderável (“você acha que eu vou subir numa balança”?), esse gordão grandão é um inquieto, que tem mais energia do que banhas, um eficiente e um desregrado com espantosas proezas de força de vontade. Seu metabolismo financeiro é tão ativo quanto o biológico; ele fatura e despende muito, inclusive relações, e tende a fazer cada vez mais movimento. Está com muitas composições para lançar, inclusive um "Frevo n° 2", a marchinha "Posso viver sozinho," os sambas "Portão antigo," "Caso perdido", "Fulana de Tal", "Aconteceu em São Paulo" e "Silêncio", admira principalmente Aracy de Almeida (“meu Maria”, é como Araca o chama) e Nora Ney, imita qualquer pessoa, é generoso e esperto e gosta de ser ambas as coisas. Seu esporte predileto é pichar Fernando Lobo, mas dá gostosas gargalhadas quando sabe de algum veneno que o Lobinho fez contra ele; nunca passaram seis meses sem brigar de mentira para depois fingirem que estão de bem.
A fotografia acima não é melhorada; é dele mesmo, mas em 1947, quando era candidato a vereador e precisava ser digno de perfil, mas sem gravata, como convinha a um moço cujas simpatias oscilavam entre a esquerda e o centro. Quando telefona para a gente, diz que “é Zé Maria”, porque acha mais fácil.