Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. II, p.523. Publicada, originalmente, na revista Careta, de 27/05/1922 e, posteriormente, no livro Marginália, Brasiliense, 1956, p.146.

É inegável que a atual administração municipal tem muito trabalhado para a perfeição dos serviços que lhes são afetos. Haja vista o aperfeiçoamento do Morro de Santo Antônio, que tem inundado de lama todo o centro da cidade, a qualquer chuvarada.

Onde, porém, o digno prefeito contemporâneo se há mostrado uma capacidade em matéria de edilidade é nos subúrbios.

Toda a gente conhece, pelo menos de nome, a Estrada Real de Santa Cruz, hoje Avenida Suburbana. Pois bem. Num trecho dela que enfrenta com as obras de uma fábrica que um conhecido capitalista está construindo, entre Todos os Santos e Inhaúma, a nossa municipalidade descarregou há alguns meses dezenas de “meios-fios”, ou que outro nome tenham, para calçamento da mesma.

Tais pedrouços, que se destinavam a facilitar o rolamento das carroças, acabaram, graças ao esquecimento do senhor prefeito e seus auxiliares, a ser um estorvo para toda a espécie de veículos.

Admira-me que o capitalista que está construindo a tal fábrica, no fim da Rua José Bonifácio, em Todos os Santos, não tenha ainda obtido do senhor Sampaio o aproveitamento de tais pedregulhos ou, se não, a sua remoção do local em que estão.

Poetas por poetas sejam lidos; capitalistas por capitalistas sejam... atendidos.

lima-barreto