Confissões de um jovem editor

 

Fonte: Manchete, de 1/10/1960.

Quando meu amigo Juca fundou o “Juca’s Bar”, fiz uma crônica meio alegre meio triste dizendo que o Juca tinha passado para o outro lado do balcão.

Sinto-me um pouco assim agora, virando editor. Certamente nem por isso deixarei de escrever, como o Juca não deixou de tomar seu uísque.

Esse negócio da Editora do Autor (será negócio mesmo?) nasceu de uma conversa minha com Fernando Sabino e outra dele com o Dr. Walter Acosta, autor de um Processo Penal e outras obras jurídicas. Éramos três autores e nenhum de nós tinha queixa de seu editor – muito menos eu, que sou amigo de José Olympio desde o tempo em que ele só tinha livraria em São Paulo. Mas achamos que editando nós mesos nossos livros poderíamos ganhar mais que os tradicionais 10 por cento sobre o preço de capa – e sobretudo editar quanto e quando nos desse na telha. Começaríamos por editar nossos próprios livros; logo acertamos mais dois, de dois amigos do peito, Vinicius de Moraes e Paulo Mendes Campos. Os leitores estão vendo que aí estão três cronistas da Manchete; e se não convidamos o Henrique Pongetti, foi apenas porque os Pongetti também são editores (Gostou do também, Rogério?).

Os amigos Vinicius e Mendes Campos entram como sócios de emergência, pois financiarão apenas seus próprios livros; o poeta lançará a segunda edição (aumentada) de sua Antologia, e Paulo fará um livro de crônicas – O cego de Ipanema, incluindo suas melhores crônicas aparecidas em Manchete. Eu farei um novo livro de crônicas – Ai de ti, Copacabana! e Fernando uma seleção de suas histórias sob o título O homem nu.

Os quatro livros serão lançados em fins de outubro em uma tarde conjunta de autógrafos, e como não confiamos muito em nossa capacidade de atrair público (a não ser o Vinicius, que toca violão e faz samba) estamos pedindo a ajuda de alguns artistas. Caymmi e Bonfá já toparam, o que não é dizer pouco. É possível que nós quatro, autoeditados ou autoeditores, façamos o mesmo movimento em outras praças do País, a começar por São Paulo.

Mas quando tudo isso estava combinado apareceu Jean-Paul Sartre; encontrei-me com ele na Bahia e falei na possibilidade de publicar em livro suas reportagens sobre a revolução de Cuba que estavam saindo em jornais brasileiros. Jorge Amado opinou a favor, eu me entendi com a Prensa Latina, Sartre fez questão absoluta de abrir mão de seus direitos autorais (é o autor ideal!) e mobilizando vários amigos tradutores e botando a gráfica do bom Borsoi em regime de emergência, fizemos em 7 dias a tradução, o livro e o lançamento do livro no Super Shopping Center, em Copacabana!

Foi uma virada terrível; mas o fato é que agora já nos sentimos editores. Queremos avisar aos jovens autores incompreendidos que eles devem procurar o José Olympio ou o Ênio da Civilização, ou a Globo – enfim, os editores tradicionais, que já têm capital bastante para arriscar em livros de talentos novos. Nós ainda não podemos. Em todo caso estudaremos com prazer qualquer proposta de livro, e pediremos o parecer da Comissão Consultiva para isso designada: o premier Lumumba, o Presidente Kasavubu e o Coronel Mobutu. As decisões favoráveis devem ser tomadas por unanimidade…

O leitor dirá que tudo isso está cheirando a propaganda comercial. Que fazer, se virei homem de negócios? Qualquer reserva para livraria ou pedido para reembolso postal deve ser dirigido à Editora do Autor, Rua Araújo Porto Alegre, 70, grupo 413, Rio, telefone 42-9421. (Achei meio exagerado chamar aquelas salinhas de “grupo”, mas o Acosta disse que isso dá boa impressão no interior).

rubem-braga