Como sempre, naquela noite os quatro casais se dividiram: as mulheres acabaram ficando na sala e os homens foram sentar-se na varanda. Enquanto dali podiam ouvir a animação delas, pelas vozes que se misturavam, entre risadas, eles acabaram caindo num mutismo de dar sono.
— Como falam — suspirou um, afinal.
— E todas ao mesmo tempo — acrescentou outro.
— Assunto é que não falta.
— Empregadas, crianças, vestidos, regime para emagrecer...
— Quando não falam das outras mulheres — tornou o primeiro.
— Ou dos outros homens, por que não?
— Isso só longe de nós.
— Nós, pelo menos, temos coisa mais séria a conversar.
— Que é que você chama de coisa mais séria?
— Tudo: as notícias do dia, política, essas coisas.
— Ou futebol.
— Que não deixa também de ser assunto sério.
Pelo menos mais interessante.
— Elas só conversam futilidades.
— Levam horas falando em penteados.
— Imagine se a gente ficasse conversando sobre barba, por exemplo.
— Não rendia nem dois minutos: todo homem faz a barba e ponto final.
— Menos eu — protestou o único barbado da roda.
— E eu — disse outro: — A minha quem faz é o barbeiro.
— Todo dia?
— Todo dia.
Os demais estranharam:
— Por quê?
— Tenho a pele muito fina. Acabo me cortando todo.
— Já experimentou aparelho elétrico?
— Que nada! O que ele deve experimentar é desses descartáveis, uma beleza!
— Eu também tinha esse problema de me cortar, hoje não tenho mais. Depende da hora que você faz: quanto mais cedo, melhor.
— O descartável é levinho, você usa algumas vezes e joga fora.
— E daí? Esquece de comprar outro, não tem com que fazer a barba.
— Já me aconteceu isso: tive de usar o de minha mulher raspar perna.
O barbado tinha sua contribuição a dar:
— Não pensem que meu problema está resolvido só porque uso barba. Dá mais trabalho do que fazer todo dia: tenho de aparar, raspar no pescoço, acertar com tesourinha, o diabo. Se deixar, vira barba de profeta.
— Vou dizer o que você deve fazer — disse o do descartável para o do barbeiro: — Molha antes o rosto com água bem quente e depois...
— O segredo está no sabão — cortou outro.
— O melhor ainda é aquele antigo, em forma de bastão.
Não se encontra mais.
— Hoje é só creme de barbear.
— Aquele de passar com o dedo é terrível: lambreca o rosto todo e no fim...
— O de spray é pior: parece creme de chantilly.
— Qualquer sabão serve. Desde que a lâmina seja nova.
— Gasto uma de cada vez.
— Eu uso sabonete comum e nem por isso...
Cada um já falava sem ouvir os demais:
— Não uso loção nem talco, essas frescuras.
— O segredo de uma barba bem feita está em...
— Pois eu acho que o pincel, sendo pequeno...
— Experimente passar um dia sem fazer, e depois...
Todos, entusiasmados, falavam a um só tempo:
Boa mesmo era aquela lâmina de antigamente, chamada Valete.
— É só saber escanhoar: uma vez para cima, outra para baixo.
— De noite já cresceu, tenho de fazer de novo.
— O pior é quando a minha começa a coçar.
— Se não faço todo dia minha mulher reclama, diz que está espetando.
Na sala, as mulheres haviam se calado e escutavam, fascinadas.