Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. I, p.244. Publicada, originalmente, na revista Careta, de 9/10/1915 e, posteriormente, no livro Coisas do reino de Jambon, Brasiliense, 1956, p.104.
O meu amigo doutor Bogóloff, que, durante muitos anos, exerceu o lugar de diretor da Pecuária Nacional, um dia destes, me disse:
— Caminha, você onde nasceu?
— No Brasil.
— Mas em que estado?
— Nasci na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Disse isto com todo o orgulho de quem nasceu em uma bela e grande cidade, libérrima, que nem a paz de Varsóvia, preconizada pelo Senhor Raul Cardoso, deputado por São Paulo.
Ouvindo a minha resposta, o doutor Bogóloff pensou um pouco e acudiu:
— Você deve fundar o Centro da Colônia Carioca, no Rio de Janeiro.
— Isto é um absurdo, Bogóloff. Nós nascemos aqui e não precisamos de semelhante coisa.
— É um engano.
— Como?
— Digo já a você. O prefeito da cidade de onde é?
— Quase sempre de fora.
— Os presidentes quando vêm, quais as pessoas que trazem para os cargos administrativos da cidade?
— Gente dos estados deles.
— Vai vendo você que eu tenho razão. Vocês precisam fundar o Centro da Colônia Carioca, no Rio de Janeiro. É uma necessidade. Não acha?
Concordei e fiquei pensando na fundação de tão útil instituição.