— Qual a mais bela palavra da língua portuguesa?
— Hoje é glicínia. Apesar de leguminosa.
— E amanhã?
— Cada dia escolho uma, conforme o tempo.
— A mais feia?
— Não digo. Podem escutar.
— Acredita em Deus?
— Ele é que não acredita em mim.
— E em Saldanha?
— O cisne ou o outro?
— O outro.
— Até Deus acredita nele.
— Então papamos a taça?
— Na raça.
— E se não paparmos?
— Eu não sou daqui, sou de Niterói.
— Mas tudo é Brasil.
— Para o Imposto de Renda, sim.
— Para o Imposto de Serviço, são muitos.
— Já fez a declaração?
— Quem faz por mim é um computador da terceira geração.
— Tão complicada assim?
— Ao contrário: a mais simples.
— Parabéns por ter renda.
— Mas eu não tenho. Imagine se tivesse.
— E a Apolo-9?
— O maravilhoso ficou barato. Quero ver aqueles três é guiando fusca no Rio.
— Vai melhorar. Olhe os viadutos.
— Estou olhando. Não vejo é pedestre. Já será efeito da pílula?
— O Papa nem sempre é Papa.
— Acha que China e URSS irão à guerra?
— Não. A guerra é sempre feita entre um que quer e outro que não quer brigar. Quando os dois querem, verificam que estão de acordo, e detestam-se em paz.
— E a crise do teatro?
— Cada um leia a peça em casa.
— Os atores ficarão sem trabalho?
— Escreverão peças para leitura em casa.
— Os teatros estão fechando.
— Mas as cervejarias estão abrindo.
— E o Festival do Filme?
— Genial. Vai mostrar aquilo que não se vê mais nos cinemas: filmes.
— Esquadrão da Morte?
— Calma. Se é para liquidar com os bandidos, acabará fuzilando a si mesmo.
— É pela eleição por distrito?
— Sou radical. Pelo bairro.
— Seu prato predileto?
— A vontade de comer.
— Cor?
— A do vinho no copo; da luz no mar; dos olhos inteligentes.
— Sua divisa?
— A do meu apartamento. Em condomínio.
— Pretende reservar passagem para a Lua?
— Não aprecio lugares muito frequentados.
— Que acha do gênero humano?
— Podia ser pior.
— E dos animais?
— Em geral têm muita paciência conosco.
— Que mensagem envia aos telespectadores?
— Que mantenham desligados seus receptores.
— Qual! O senhor é impossível!
— Também acho.