— A menina abre o livro ilustrado que conta a história de Cinderela.
— Papai, quem é essa moça?
— Cinderela.
— Por quê?
— Porque o nome dela é Cinderela.
— Por que o vestido dela é feio?
— Porque ela é pobre.
— Por que ela é pobre?
— Porque ela não tem dinheiro.
— Por que ela não tem dinheiro?
— Porque o pai dela morreu.
— Por que o pai dela morreu?
— Porque ele ficou doente.
— Por que ele ficou doente?
— Porque ele trabalhava muito.
— Por que ele trabalhava muito?
— Para ganhar dinheiro.
— E por que ela não tem dinheiro?
— Pois é. Agora ela é empregada neste castelo.
— Por que este castelo?
— Porque... porque o castelo é assim mesmo, uai.
— Por quê?
— Porque antigamente os castelos eram assim.
— Por que essa moça está conversando com a outra?
— Porque ela está rindo da Cinderela.
— Por que ela está rindo?
— Porque ela não gosta da Cinderela.
— Por que ela não gosta?
— Porque a Cinderela é bonita.
— Mas por que ela está rindo?
— Por isso: a Cinderela é bonita, ela é feia.
— Por que ela é feia?
— Porque ela é invejosa.
— Por que ela é invejosa?
— Porque ela é feia.
— Por que a Cinderela não tem sapato?
— Porque no tempo da predominância aristocrática, antes da revolução burguesa, a opressão de classe chegava a esses estados lamentáveis, em que uma pobre ancila de um castelo feudal nem mesmo podia dispor de um sapato.
— Ah, sei.