Imagens do espírito
Em vez do trivial do cronista, o leitor encontrará aqui hoje coisa fina, de marca de classe. Ofereço-lhe máximas e anotações de Joubert, o moralista. (Não confundir com o sr. Joubert Guerra, um dos técnicos responsáveis pela Fábrica Nacional de Motores). Joseph Joubert, que viveu de 1754 a 1824, e foi amigo de Chateaubriand, não publicou livro algum. Gostava de conversar, de refletir, de anotar as reflexões. 14 anos depois de seu falecimento, Chateaubriand divulgou-lhe uma seleção de aforismos. Mais tarde surgiram edições completas. “Um dos mais preciosos documentos espirituais de todos tempos”, é como Gabriel Marcel chama os Carnets de Joubert, no texto estabelecido definitivamente pelo casal André Beaunier. Deste celeiro trouxe alguns grãos para o leitor de domingo:
“Em todas as coisas, os tolos ficam para cá, e os loucos para lá da verdade”.
“Ao agir, devemos ater-nos às regras; e ao julgar, ter em vista as exceções”.
“Sai da palavra infinito uma voz que grita: Pára. Mas agimos como se ela ordenasse: Avança”.
“As crianças precisam mais de modelos do que de críticos”.
“A música tem sete letras, a escrita 25 notas”.
“Imitai o tempo. Ele destrói tudo com lentidão. Mina, desgasta, desenraiza, desata. Não arranca”.
“É preferível haver muitos ingênuos do que haver muitos velhacos”.
“Os medíocres precisam de livros medíocres”.
“Conviria que apresentássemos aos outros razões boas não apenas para nós, mas igualmente para eles”.
“Nada recomenda tanto uma mulher como sua paciência, e nada a recomenda menos do que a paciência do marido”.
“Metafísica: essa grande ciência em que tudo é verdadeiro, mesmo o contraditório, como numa vasta paisagem em que as mesmas torres são redondas e quadradas”.
“Precisei da idade para saber tudo que desejava saber, e precisaria da mocidade para dizer bem o que sei”.
“Devemos ceder ao céu e resistir aos homens”.
“Falar a Deus sobre tudo; ousar interrogá-lo e ficar atento para escutá-lo em tudo. Mas às vezes ouvimos nossa própria voz como sendo a de Deus”.
“A amizade é uma planta que deve resistir à seca”.
“Chamemos corpo à barraca onde nossa existência está acampada”.
“Há pessoas que não teriam espírito se não houvesse livros”.
“O gatinho e a bola de papel que ele converte em rato. Toca-a levemente, receoso de perder a ilusão”.
“Ao educar uma criança, devemos pensar em sua velhice”.
“Deus se serve de tudo, até mesmo de nossas ilusões”.
“Para escrever bem, fazem-se necessárias uma facilidade nata e uma dificuldade adquirida”.
“A república das formigas e a monarquia das abelhas”.
“Aqueles a quem o mundo não basta: os santos, os conquistadores, os poetas e todos os amadores de livros”.
“A liberdade é um tirano governado por seus caprichos”.
“Em um estado bem ordenado, os reis mandam em reis, isto é, em pais de família, senhores de suas casas. Se alguém governa mal sua casa, é grande pena, mas pior seria se não a governasse”.
“Quantas pessoas, em literatura, têm bom ouvido e cantam desafinado”!
“O castigo dos maus príncipes serem julgados piores do que são”.
“O papel é paciente; o leitor, não”.
“O castigo daqueles que amaram demais as mulheres é amá-las sempre”.
“Sim, parece que os povos gostam de perigo, e quando ele falta, o fabricam”.