Prometi aos leitores um turismo sem mala e sem documento, por artes de viajantes que fixaram no papel suas andanças. Esta é uma vadiação europeia, em ordem alfabética, talvez a única ordem possível hoje em dia no planeta.
BERLIM — Aqui, tudo é do tempo do rei da Prússia. Nada de importante se construiu depois de 1810. — Valéry Larbaud.
BORDEAUX — …nesta vinhosa cidade, urinol do mundo. — José Bonifácio, o Patriarca.
BRUXELAS — Que capital é essa, onde a gente não tem a faculdade de se afogar? Gand possui o Escalda, Liège o Mosa; Bruxelas, só um pobre riacho a que dá o nome de Senne, triste contrafação. — Gérard de Nerval.
CANNES — É um paraíso, mas artificial todo ele, isto é, os jardins e as palmeiras. Parece só ter plantas decorativas e flores condenadas à perfumaria. — Joaquim Nabuco.
GENEBRA — Mudava eu de hotel, principalmente em Genebra, durante estadas mais longas, não para mudar de hotel, mas para mudar de suíço. Não variava de alojamento; procurava outras caras, outros gestos, outros jeitos nos servidores, nas pessoas com quem devia conviver. Em vão! — Gilberto Amado.
GÊNOVA — Tem ar de prisão conservada com a maior limpeza. E um silêncio, uma tristeza que eu nunca vi iguais em parte alguma. — Stendhal.
GLASGOW — Uma tapera de presbiterianos carolas e borrachos. — Antônio Torres.
HAIA — Tem aquela graça das cidades grandes que parecem pequenas. Há uma extraordinária poesia na “aldeia mais bonita da Europa”. — Manuel Bandeira.
HAMBURGO — Os cachorros de Hamburgo! São mais ricos de forma e variedade que os próprios pães hamburgueses, de uma compostura, um andar tão digno, uma tal decência, que desaprenderam a ladrar, a homenagear os postes, desaguando um pouco. — Augusto Meyer.
LONDRES — É um convento, em forma de clube, em que os que se encontram no silêncio da grande biblioteca ou das salas de jantar não dão fé uns dos outros, e cada um se sente indiferente a todos. — Joaquim Nabuco.
Um vasto aldeamento bárbaro. Dos aldeamentos bárbaros é o mais opulento e o mais arrogante. — Antônio Torres.
O dourado desta encadernação torna-se mais claro a cada momento: uma tentativa de sol, sem dúvida... — Valéry Larbaud.
MARSELHA — Aqui o sol pensa alto, é uma grande luz que se mistura à conversa. —Jules Supervielle.
MILÃO — A estação imensa, demasiado vistosa para os seus préstimos, a menos que a gente apeie embaixador, com banda de música na porta. — Augusto Meyer.
MUNIQUE — Que cidade, esta Munique, esta Florença alemã! Há ruas que parecem Florença... com mais ordem. — Antônio Torres.
PARIS — Paris é um teatro em que todos, de todas as profissões, de todas as idades, de todos os países, vivem representando para a multidão de curiosos que os cercam. — Joaquim Nabuco.
É a cidade das cidades. Senhores! Deus é Deus e Paris é a sua moradia. — Antônio Torres.
Uma rua de Paris é um rio que vem da Grécia. — Gilberto Amado.
A doçura feminina de certas cidades como Paris. — Sérgio Milliet.
Pode-se criticar de muitos modos a cidade de Paris, mas acho indiscutível que é uma boa cidade para se falar sozinho na rua, mesmo em português. — Rubem Braga.