Fonte: Benditas sejam as moças: as crônicas de Antônio Maria, Civilização Brasileira, 2002, pp. 123-124. Publicada, originalmente, no jornal Última Hora, de 22/09/1959. E nos livros O jornal de Antônio Maria, de 1968, e Com vocês, Antônio Maria, de 1994. 

Lá vai a mulher, levando o bêbado para casa. Uma mulher pequena e um bêbado grande. Ele não quer ir. Para, agarra-se ao poste. Vem um guarda e o bêbado o insulta. O guarda segura o bêbado pelas abas do paletó. A mulher lhe pede que não faça nada, porque aquele é um bêbado muito bom. O guarda entende. Vai-se embora. A mulher toma a mão do bêbado e começa a puxá-lo. O bêbado diz o nome de outra mulher e olha demoradamente o mar, como se a procurasse. Mas a luz nova da manhã queima e fecha os seus olhos. Ele diz que vai buscá-la e começa a tirar os sapatos, para entrar de mar adentro. Passa um automóvel, de onde outro bêbado lhe grita um palavrão. A mulher toma-lhe a mão, outra vez, e consegue que caminhem uns quatro ou cinco passos. Passa um rapaz forte, de calção. O bêbado o insulta. O rapaz morde-se na boca, fecha a mão e os seus olhos faíscam. A mulher pede-lhe que se abrande, repetindo que aquele é um bêbado muito bom. O rapaz atende e vai-se embora. O bêbado se encosta ao muro de uma casa e repete o nome, que dissera minutos antes. Um nome muito bonito, de uma dona que, pelo olhar triste do bêbado, deve estar longe. Passam duas mocinhas de colégio e riem do bêbado. A mulher odeia as duas, que não sabem sentir, nem perdoar o bêbado. Vem um capitão e o bêbado insulta o Exército. Antes que o capitão dissesse alguma coisa, a mulher lhe suplicou que não fizesse nada e fosse embora para o quartel. O capitão atendeu, mas antes murmurou uma palavra de ódio, com os lábios semicerrados. O bêbado sorri e cobre o rosto com as mãos. A mulher o abraça, num carinho, e beija-lhe o peito. Vem uma velhinha e pergunta alguma coisa. A mulher lhe explica que aquele bêbado ela encontrou num bar, mas é um homem muito bom, diferente dos outros, e ela o vai levando para sua casa, onde lhe pedirá que fique, para sempre. O bêbado sorri e diz, com orgulho, o nome da outra mulher. Saem andando...

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