Bem maquiado, toalete bem-feita, todo catita, o Rio viveu um momento de euforia. O porre por enquanto não tem vislumbre de ressaca. A massagem do ego trouxe de volta até uma onda de saudosismo. O prefeito Marcello Alencar chegou a falar na volta da capital, o que, claro, é apenas um sonho. O Brasil passou mais de um século matutando na mudança da capital para o interior. Era o que já pregava o patriarca José Bonifácio em 1822.
Todas as Constituições republicanas insistiram na ideia. Um dia o sonho se fez realidade e lá está Brasília em pleno cerrado goiano. Não vou dizer que o Rio de cara não perdeu com a mudança, porque de fato perdeu. Mas não foi nenhum pesadelo. Pesadelo parece que é o que vive Brasília neste momento, com a CPI do PC, o nervosismo do meio político e o irado pronunciamento do Collor.
Neste sentido, Brasília está mais velha do que o velho Rio, que ainda agora se enfeitou para sediar a maior conferência de cúpula de todos os tempos. Antes, o grande culpado de tudo que acontecia de mau no Brasil era o Rio. Sua mentalidade meio frívola, de belas praias e de lazer. Aqui, dizia-se, o governo sofria toda sorte de pressões, muitas espúrias. Não dava pra pensar em termos nacionais. A atmosfera artificial era uma espécie de anacronismo cortesão.
Hoje, ninguém duvida de que a corte está em Brasília, com todo o séquito de suas mazelas. Com vantagens e desvantagens, a capital está é lá, com o seu perfil arquitetônico moderníssimo. Mas o Brasil e os brasileiros não mudaram de personalidade só porque a capital mudou de endereço. A longo prazo, a marcha para o oeste terá sido positiva, apesar do ocaso democrático que se seguiu a 1964. Mas por ora Brasília está longe de significar a expiação de nossas velhas chagas nacionais.
É possível que o Rio hoje até se sinta aliviado. Já não é por exemplo o cenário do dramalhão que neste momento se desenrola no Distrito Federal. A conferência ecológica nos trouxe de volta a autoestima. Confiante, até vaidosa, a cidade reencontrou a sua vocação cosmopolita de porto de mar aberto ao mundo. Afinal o Rio provou que é competente para o que der e vier ― e tudo com bom humor, no melhor estilo carioca. Sim, tem droga, bandido, mendigo e menino de rua. Mas quem não tem?