Escrevi certa vez, e fui mal compreendido, que tenho pena dos poetas. Quando me aparece um moço escrevendo poesia, meu coração aperta. O Manuel Bandeira chamava os novos poetas de pardais. Uma vez o encontrei com um pardalzinho, por sinal fracote. O Manuel lhe disse duas palavras amáveis, que estranhei. Eu tinha visto a amostra, pouco estimulante. E daí? Escrever versos já é em si uma homenagem à poesia. Melhor poetando do que cheirando, por exemplo.

Era o que pensava o Manuel Bandeira. Já a Clarice Lispector, visitada por um moço poeta, leu-lhe os versos com resignação e ao fim saiu-se com este conselho: “Olhe, faça prosa também, viu”? A grande Clarice sabia de coração o preço que paga um poeta. Então fizesse prosa para se sentir menos isolado. Atirando nos dois alvos, na prosa e no verso, é maior a chance de quebrar o ineditismo. E as cadeias da solidão.

Você pode não gostar do Paul Claudel, dito o Dante do século 20. Mas sucesso teve como ninguém. Presumo que no ano que vem, no 5° centenário da América, se lembrem do seu Le livre de Christophe Colomb. Deviam levá-lo também aqui no Brasil, onde Claudel serviu como diplomata. Para cá trouxe Darius Milhaud. Aqui conheceu o Nijinski. O Colombo de Claudel é perseguido pelos credores, que lhe gritam: “Paga tuas dívidas! Paga tuas dívidas”! Igualzinho ao Brasil e à América Latina.

Agora vejam: a propósito da trágica vida de sua irmã Camille, artista genial que ficou 30 anos internada como louca, diz o poeta que foram inúteis os seus dons soberbos. Só serviram para fazer a sua desgraça. Diante disto, Claudel encarava com horror a hipótese de um dos seus filhos vir a ser artista. É uma vocação que mete medo, muito perigosa. Poucos resistem. A maioria acaba numa vida frustrada. De perto, ainda assim a vida desses poucos se ressente de um profundo desequilíbrio.

Sobre homens de letras e poetas, em particular poetas, Claudel chora lágrimas de esguicho, qual Jeremias. Mesmo os que não são malditos a seu ver se inscrevem num martirológio que é o oposto da felicidade. E textual: não se pode desejar a ninguém o dom da poesia. Que pai desejaria na família um Verlaine ou um Rimbaud? Ah, não é uma bênção! Até aqui, falou Claudel. Agora falo eu: que vocação é mais nobre que a poesia? Sim, o preço é alto. Mais alta, porém, é a poesia.

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