Um vexame a entrevista do Medeiros. Não fosse um líder sindical, ainda assim seria uma vergonha. A escalada de esbórnias e bisbórrias é tão avassaladora que já não surpreende. A moda é botar a intimidade bem no meio da rua para todo mundo apreciar. Cada um exagera mais do que o outro. É a maratona da cafajestagem. O sujeito nem espera a pergunta indiscreta. Já vai colaborando com a resposta mais escabrosa que preparou em casa.

Até jornalzinho do interior tem um colunista pra perguntar à senhora de sociedade de que cor é a pintinha que ela tem no glúteo esquerdo. Se o entrevistado é homem, a baixaria vai entrando sem limpar os pés. O humor é na base daquele mecanismo infantil: entra na sala de visitas, diz xixi-cocô e sai correndo, às gargalhadas. Quer coisa mais cruel do que piada com Aids? Pois tem aos montes. Onde não há um trejeito de bicha, parece que não há graça nenhuma.

Perguntas há que são fatais: qual o lugar mais estranho em que você fez amor? Se o repórter é homem, a resposta adequada seria: pergunte à sua mãezinha. Se é mulher: seu papai não lhe contou? O Medeiros, coitado, entrou na onda. Diante da repercussão, viu logo a burrada e mandou à mulher, justamente magoada, uma carta em que confessa o seu constrangimento. Devia é pedir desculpa por inteiro e às claras.

Mas é boa a carta. E pública. No caso, está certo. Desculpe o seu marido, dona Iara. Pediu perdão, deve ser perdoado. A civilização começou no dia em que o primeiro ser humano perdoou o seu semelhante. Outro dia o Turíbio Santos, mestre no violão e em Villa-Lobos, brigou com o Hernandez, crítico de O Globo. Peço desculpas publicamente pelo excesso de linguagem, escreveu o Turíbio. Está desculpado, retrucou o Hernandez. Bonito exemplo, que não exclui divergências e brigas.

Grande perdoador, disse, de Jesus Cristo, Julien Green. Na essência do cristianismo está o perdão. Nosso Senhor mandou amar os vizinhos (ou o próximo) e perdoar os inimigos. São os mesmos, disse Chesterton. O mais alto grau desta vizinhança inimiga é a guerra conjugal. O perdão é o combustível do convívio. Sem ele, nada feito. A vida pede moderação: “ne quid nimis”. Acho que está na hora de um Yom Kippur brasileiro. Com expiação e penitência. “Tout comprendre c’est tout pardonner”, diz o adágio. Está difícil é saber por onde começar, enquanto é tempo.

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