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3 set 1960
A alma das ruas
Paulo Mendes Campos
Manchete
A funcionária, bonita, desquitada, desejava saber o que o chefe de sua repartição pensava sobre o divórcio. E este: — Divórcio deve equivaler à lei de falência. O comerciante, ao estabelecer-se, não está pensando em fracassar no seu...
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12 jun 1966
Namorados no mundo
Carlos Drummond de Andrade
Correio da Manhã
Gratas imagens Na Tanzânia, país africano socialista, os namorados recebem do governo duas coroas de flores, ele as azuis e ela as vermelhas, todos os sábados pela manhã, durante três meses. Findo esse prazo, faz-se a união. Uma delegação de...
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Do amor futuro
José Carlos Oliveira
Uma ventania morna afligia os loucos mansos, e eles provocaram distúrbios pitorescos em Copacabana, Ipanema e Leblon. Observei pessoalmente três deles e ouvi falar de um outro que fingiu agredir, em plena rua, o cineasta Fernando Amaral, mas era...
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O amor começa
José Carlos Oliveira
(Réplica ao belo poema de Paulo Mendes Campos) E quando começa o amor, Paulo? Quando você chega. Quando um cálice quebra o licor se derrama nuns joelhos, o amor pode começar. Quando as linhas do telefone se cruzam e um susto resplandece de...
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No restaurante
Maria Julieta Drummond de Andrade
Sentou-se numa mesa pequena, junto à parede: felizmente o salão ainda estava quase vazio. Ela gostava de vez em quando de sair mais cedo do trabalho, caminhar pelo bairro ao anoitecer e, a caminho de casa, entrar naquela pizzaria confortável,...
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A carta
José Carlos Oliveira
A garota está em crise com o namorado e escreveu uma carta para ele na esperança de fazer as coisas voltarem a ser como antes. Ele me deixou ler a carta e fiquei impressionado com o estilo dela. Primeiro senti admiração; depois, inveja. Pensei...
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Desgaste
Antônio Maria
Fecharam-se, por dentro, num apartamento de quatro peças: quarto, sala, cozinha e banheiro. Faltava água desde 1944 e as pias estavam cheias — a banheira também — de uma água feia, amarela, que havia de servir para o que desse e viesse....
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Olho por olho
Fernando Sabino
— Quem é aquele cara na mesa ali do canto que não tira o olho de você? — Qual? — Não olha não — advertiu ele. — Como é que eu vou saber sem olhar? — Pode olhar, mas disfarçado. Ela olhou disfarçado: — Nunca vi mais...
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A pescaria
Lima Barreto
O Jorge era, apesar de boêmio, um bom chefe de família. A sua mulher, que lhe sabia cavalheiro e bom marido, não se importava absolutamente com as suas extravagâncias. Eles viviam na maior paz e harmonia. Chegasse ele às dez, às onze ou às...
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Vinicius de Moraes voltou de Paris
Antônio Maria
O casal vivera um ano na mais completa felicidade. Feliz em todas as peças do apartamento. Feliz, em todos os móveis da casa. Jonathas é aquele marido ciumento, tão ciumento que quando Alice (sua mulher, no civil e no religioso), sentava-se em...
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Mulher de nariz arrebitado
Antônio Maria
Tinha medo da mulher. De grito, não; nem de pancada. Tinha medo que ela o enganasse. Era uma mulherzinha de sangue capixaba, misturado com italiano. Pequenina, cintura fina, ponta de nariz arrebitado e narinas frementes. Quando dizia uma coisa,...
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Diário do cronista
Antônio Maria
(1957 – Quarta-Feira de Cinzas) – Mal cheguei da Europa, as festas me pegaram. O Natal foi numa mesa de boate, com um amigo de infância, o mais pessimista, que me dizia, sem parar: – Estamos muito velhos. Nossas lembranças têm todas mais...
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Advertência aos incautos
Antônio Maria
A vida ensina que a gente se deve dar com o menor número possível de pessoas e frequentá-las cada vez menos. Isto porque o "próximo" de um modo geral não nos acrescenta nada e, quase sempre, tira. Sem querer dizer que "o próximo" seja,...
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22 jan 1953
Do 1003
Rubem Braga
Correio da Manhã
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal — devia ser meia-noite — e a...
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24 out 1952
Hotel
Rubem Braga
Correio da Manhã
O homem da portaria ia escrever um número diante de seu nome, mas ele o deteve: — Por favor... o apartamento 18 está livre? O homem correu os olhos pelo livro: — Está. Mas temos um melhor, o 34. — Prefiro o 18. Já morei aqui, há muitos...
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18 fev 1954
Margarida Lemounier escreve-nos...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Margarida Lemounier escreve-nos graciosa carta, citando trechos de um livro inglês (Como se fazer amar) traduzido para o português, perguntando-nos se eles servem para a seção. Servem. Esta passagem é do capítulo “Como beijar com...
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13 maio 1953
Sexta-feira. Chegou em casa...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Sexta-feira. Chegou em casa e viu que o seu lar era bom. A mulher carinhosa, a cozinheira no seu posto, a poltrona confortável. Conversou um quarto de hora com as crianças e levou-as à cama. As crianças dormiram, o jantar estava bom, a noite era...
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14 fev 1953
A moça era bolsista em Paris...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
A moça era bolsista em Paris. Contou-me que uma de suas mais estranhas aventuras deu-se uma vez em que, por motivos também estranhos, teve de fazer parte de um jantar de congraçamento entre médicos ginecologistas. Os velhinhos imemoriais...
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9 maio 1952
André Gide se diverte
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
O velho Espinas foi uma pessoa de quem muito gostei. Teve por mim uma afeição singular, nunca compreendi bem por quê. Autor de um livro notável (procurar o título exato) sobre o sentimento social em certos insetos, sua curiosidade foi em...
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29 abr 1952
O verdadeiro dono da casa...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
“O verdadeiro dono da casa é perito na arte de fazer brilhar cada convidado no próprio campo e deve fazê-lo de modo que ninguém o perceba, nem mesmo o interessado. Se ele diz, por exemplo, “Caro X, você, que entende tanto de pintura, que...
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3 out 1951
Eu estava diante de...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Eu estava diante de uma banca de jornais na avenida, quando fui abordado por uma criatura muito pessimista. Era um homem de 50 anos, de roupa suja e esfarrapada. Como estivéssemos a ler títulos de jornais, ele começou por me confessar sua...
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