Antes de tudo, peço desculpas: pois discurso não sei fazer. Era menino de ginásio, mais chegado ao futebol do que à eloquência, quando, inadvertidamente, fui eleito orador “oficial” do nosso grêmio literário. Pois, no meu terceiro ou quarto improviso, caí na petulância de usar uma palavra grande demais para o meu tamanho, a importantíssima palavra “polimorfo”. Foi a festa da garotada: provoquei entre os meus colegas as mais sinceras e entusiastas zombarias. Pedi demissão do cargo e encerrei, covarde ou corajosamente, minha carreira de orador. Por prudência, passei desde então a ler os meus raros discursos, evitando de todas as maneiras aquela palavra hilariante e terrível – polimorfo.

Quando de Claudia vieram me perguntar se eu aceitava o convite para ir ao casamento, respondi que um convite dessa qualidade não podia ser recusado. Era um dever; eu iria de qualquer modo, debaixo de uma tempestade ou arrasado por uma dessas gripes que costumam castigar aqueles que se intitulam poetas. Pois bem. Houve uma grande mudança de atitude em mim, depois que li na revista a carta da noiva que me fazia o convite. Já então, o dever não existia mais; eu queria ir; eu queria, de coração, estar presente nesta casa.

É que a carta de uma moça chamada Thereza Oliveira da Silva, até então desconhecida, era de uma suave beleza, e me fez conhecê-la bastante. Antes de ler a carta, eu iria à festa para ser recebido por uma moça e seu noivo; depois da carta, senti que era como se eu é que fosse receber alguém: uma criatura humana de valor, que se chama Thereza. Era como se eu fosse receber uma rainha.

Que posso dar a uma rainha? Flores? Palavras antigas e raras? Talvez. De qualquer forma, eu ficaria perplexo. Além do mais, Thereza tem uma qualidade que raras rainhas podem ter: a de um coração simples, e para um coração simples tão mais difícil é a dádiva, pois ele já tem quase tudo, inclusive o sonho. Procurei o que lhe ofertar, procurei entre o que eu dispunha de melhor, e o mais verdadeiro que possuía para oferecer, concluí, era a minha própria emoção pela carta de Thereza na revista Claudia. Ofereço singelamente a Thereza a minha emoção de estar aqui. Posso garantir também que os poetas maiores ou menores (como eu), porque trabalham exatamente com a emoção, dificilmente se emocionam. O difícil aconteceu.

Na vida cotidiana, desgastada pela repetição, uma noiva significa apenas mais uma noiva. Assim, com surpresa, foi Thereza que me deu um presente: o de fazer com que me emocionasse de novo com a imagem da Moça Noiva, ou seja, a imagem da esperança na vida; inesperadamente, Thereza me fez a dádiva de recriar em mim as minhas esperanças.

Obrigado, Thereza. 

Você diz em sua carta que o sonho é gratuito. Eu me lembrei de um velho companheiro, um artista, que, às vezes, altas horas da noite telefonava aos amigos para dizer com fervor: “Obrigado; descobri de novo que viver é de graça; não tendo a quem agradecer, agradeço a você – viver é de graça!”

Desejo, Thereza, que você conserve para sempre o dom desse milagre de descobrir a cada instante que viver é de graça, que o sonho é de graça, que nenhum dinheiro do mundo pode comprar este generoso sentimento do milagre que é viver, sonhar...

Desejo que conserve essa simplicidade verdadeira de coração, pois é ela a própria pedra de toque que transforma a vida de cada dia em sonho, em milagre, em dádiva sagrada. A sua simplicidade verdadeira será o dote valioso que você levará todos os dias ao seu companheiro por este longo milagre de viver, de sonhar, de amar e até mesmo de sofrer, quando for necessário o sofrimento.

Desejo ainda a você as alegrias que desejo a uma amiga. Não a uma amiga que o acaso escolheu, mas a uma amiga que estou escolhendo. Pois é este o pedido que lhe faço: que me considere um símbolo do milagre da amizade, assim como de agora em diante você será para mim o símbolo do milagre de ser noiva.

Parabéns para você, Thereza, felicidades; e parabéns a seu noivo, para aquele que deu justo valor à preciosidade do seu coração.

paulo-mendes-campos
x
- +