Não chega a ser novidade a operação antibandalha, que está agora em desenvolvimento no Rio. Nenhuma dúvida, porém, de que se trata de um neologismo. Bandalho e sua derivada bandalheira são palavras que vêm de longe. Têm curso em Portugal e se encontram tanto no Camilo como no Aquilino. A coisa em si deve datar do tempo em que Adão jogava pião. Mas no Brasil, e em particular no Rio, tem sido muito aprimorada. Daí a necessidade do neologismo.
Bandalha, por exemplo, é a falta de escrúpulo com que o chofer de táxi trata o passageiro. A mania da esperteza, obsessão nacional, estabelece um clima de recíproca desconfiança. Nada mais desagradável. Da estação rodoviária ou do aeroporto a gente já sai com o pé atrás. Mesmo que esteja na cara que o passageiro não é bobo nem turista (às vezes as duas palavras são sinônimas), o motorista tenta partir para uma bandalha.
No caso, bandalha é furtar no relógio do taxi, ou encompridar a corrida. Ou inventar qualquer expediente que aumente o preço a cobrar. Nessa atmosfera em que ninguém confia em ninguém, em que todo mundo quer passar a perna em todo o mundo, não se constitui aquele não-escrito pacto mínimo em que se assenta uma sociedade civilizada. A malandragem epidêmica é pior do que a cólera e tende a se agravar com as dificuldades do dia-a-dia. Onde tudo é difícil, instala-se o reino da esperteza. Ganha o mais vivo. E bobo é quem paga o pato. A vítima, além do mais, tem culpa.
Daí não há lei ou regra que resista. Ciclista no Rio anda na contramão. Carrocinha de lixo também. Na lógica local, carioca, que não é a aristotélica, nem a cartesiana, assim é que se consegue mais segurança. Um menino de sete anos disse outro dia, convicto, que o sinal vermelho indica que o carro pode passar. Mas como? Sim, disse ele, de dia é o verde. De noite é o vermelho. Expliquem isso ao Bush, pra ver se ele entende. E olhem que ele já fez sete anos.
Não sei se vocês se lembram do tacômetro. Era um aparelho que limitava a velocidade dos ônibus. Deu em nada. Ou melhor, deu em muita pilhéria. Outro dia fui almoçar em São Paulo e o motorista, para evitar uma feira, me anunciou que ia cometer uma infração. Eu disse baianada, como se diz em Minas. Não, aqui é cariocada, corrigiu ele. Fico imaginando o que será uma mineirada...